domingo, 25 de fevereiro de 2018

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Por motivos menos bons, deixo a ultima mensagem de despedida acompanhada com o sorriso que me contagiou e acompanhou durante longos e bons anos.



Assinado: Super-Homem

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Despedida

Se me estão a ler neste momento, mais precisamente este texto, é porque eu já não me encontro cá.
Pensei muito antes de o fazer, foram muitas as linhas que escrevi e apaguei, mas resolvi avançar porque achei que se me leram durante tanto tempo, mereciam um agradecimento.

A luta foi grande, foram muitas as vezes em que pensei em desistir, mas também foram muitos os motivos que me levaram a continuar. Um deles todas as mensagens e palavras de força e, como sabem o Super-Homem proibiu-me de morrer.

Confesso que assim como nunca me chocou ver uma pessoa com cancro, em comparação com outras patologias que me causam alguns arrepios, também nunca acreditei na minha cura. Talvez um presságio não sei explicar. Para mim, no dia 21-01-2017 tive a minha sentença, para mim era certo que iria morrer de cancro. Durante os primeiros 10 meses, agarrei-me a palavras de incentivo, ao "vai correr tudo bem", a estudos que dizem que "estamos safos pelo menos 5 anos", a terapêuticas alvo com bons resultados. Durante os primeiros 10 meses não olhei muito para a outra face da moeda, aquela que nos indica que uma pequena percentagem de pacientes não tem resposta aos fármacos espetaculares. É a primeira vez que estão a ler uma coisa assim dita por mim não é?... por norma eu até sou parva e tento ter piada...

Para mim, não faz qualquer sentido tudo isto, não consigo perceber. Deixo os melhores dos melhores sem ter tido tempo de fazer tudo o que queria. A verdade é que nunca tempos tempo! Eu cá para dizer e deixar feito tudo o que gostava teria de ter pelo menos mais uma vida e de preferência sem cancro.
Ao longo de todos estes meses, encontrei pessoas espetaculares, revivi velhos amigos, percebi que sou uma pessoa rodeada de coisas boas. Muitas foram as palavras de incentivo que dei a quem me procurou, e acreditem que foram de coração. Eu acredito na cura do cancro embora saiba que é uma doença crônica, mas sou uma rapariga de factos e ciência e nunca acreditei na minha cura.

Não pertenço a nenhum grupo de apoio, tentei mas não consegui, não me identifiquei com nenhum. Procurar alguém como eu num grupo de apoio foi impossível. Encontrar alguém que me respondesse verdadeiramente às minhas perguntas era impossível também. Só ouvia o "vai correr tudo bem" quando estava com os pés para a cova, ou o "essas injeções não custam nada para quem já fez químico" quando na realidade eram as injeções mais dolorosas que alguma vez experimentei. Ora, para isto fico com a minha parvoíce que já é o suficiente!

Os tratamentos oncológicos não são fáceis. Nenhum deles em nenhuma fase. É um bater de frente com a morte e a falta de tempo. É sentar o glúteo numa sala de cinema e ver a nossa bibliografia incompleta, é escrever um livro sem fim. É definir prioridades, traçar um plano com um fim incerto, é pensar no "e se" vezes e vezes sem conta.  Ter cancro de mama é mau, ter cancro cerebral é olhar para nós e tentar imaginar o que são os cuidados paliativos e até onde queremos ir. Hoje, em plenas capacidades e com 33 anos, até onde é que eu quero ir?... até onde é que se considera viver? Pedirem-me para deixar escrito tudo o que quero, sem saber o que aí vem é a coisa mais estranha que alguma vez ouvi. Eu sei lá o que quero!! Bom, tive de saber, tive de refletir bem, afinal todas as decisões tomadas poderiam influenciar a vida do Super-Homem é Pintainho e coisa que eu não gosto é condicionar a vida dos outros, assim como chegar atrasada a qualquer lado.

Para quem se encontra na luta, é importante acreditar na cura sim. É importante continuar a fazer planos, a abrir os olhos de manhã, e a sonhar. Também é importante chorar e deitar cá para fora! Chorei muito, todos os dias, mas também me obrigava a levantar e a limpar as lágrimas. Quem me acompanhava não precisava de me ver assim é a verdade é que praticamente ninguém me viu chorar.
Aqueles que se encontram na luta, não tenham medo de fazer perguntas, ou de pedir segundas e terceiras opiniões. Sigam o coração mas não acreditem "na banha da cobra". Com cancros não se brinca e não há produto milagroso! Cancro é a doença do século!

Não tive tempo de publicar tudo o que queria, foram muitos os #atoressecundarios que ficaram por publicar, foram muitas as histórias tolas que ficaram por acabar. Aos #atoressecundarios que ficaram por publicar as minhas desculpas mas não tive tempo...

Se aconteceu algum milagre na minha vida, foi os Homens da minha vida terem sobrevivido ao acidente lá em casa. Não tenho dúvidas!