domingo, 10 de setembro de 2017

Robe

Na sexta feira pendurei o robe!
É isso, terminei a Radioterapia na sexta feira e pendurei o robe no cabide do gabinete 25 na esperança de ser a última vez.
Não festejei, não me entusiasmei, não pensei. Entrei como se de um dia normal se tratasse. A quem me mostrou entusiasmo disse que não ia festejar, porque cada vez que festejava alguém se encarregava de me arranjar o que fazer. Foi uma vitória sem som.
Foram 30 minutos como todos os outros 30 minutos em que estive no forno radioativo durante três semanas.
Tenho uma margarida cozinhada e uma crua...

Não sei o que me espera depois disto. Nunca perguntei o que vinha a seguir pois nunca pensei chegar até aqui. Ter cancro foi como uma sentença de morte e por isso, embora não tenha planeado o meu funeral, também nunca me preocupei com o que vinha depois e para dizer a verdade não tinha motivos para festejar.

Agora veio-me à cabeça uma conversa que tive em tempos onde a pergunta era: como é que eu gostava que fosse o meu funeral? Aqui está uma pergunta para o qual não tenho resposta, pois como disse nunca o planeei. Olhem, façam como quiserem!

O Pintainho na quinta feira teve a famosa troca de gessos. Antes tinha ido fazer um Raio-X. Confesso que estava com alguma expectativa, a semana passada as notícias até eram boas e estávamos prestes a passar para as botinhas. Desta vez, quanto os pés ficaram ao léu a cara dos enfermeiros disseram tudo e eu já conhecia bem aquela expressão. O Pintainho voltou a fazer ferida no pé mau. Saiu sem gessos e sem botas e, para piorar um bocadinho o pé mesmo nos gessos regrediu e terá de fazer nova tenotomia ao pé esquerdo.
Levei um balde de água fria, mas desta vez não chorei. Estou seca e já nada me escorre dos olhos. Olhar para o meu filho e não poder fazer nada é o pior que posso sentir. Não o desejo a ninguém!
Todas as noites lhe dou banho, agora de banheira cheia para ele chapinhar como tanto gosta, mas ao ver a felicidade dele, sinto que o estou a enganar. Daqui a uns dias (a cirurgia ainda não está marcada) vou-lhe tirar o chupa das mãos e prende-lo novamente nos gessos. Como diz o Super-Homem: "ele é tão bom tão bom que dá dó ter de passar por tudo isto!"

Dizem que eu sou uma guerreira, mas estou cansada. Se isto era uma lição, já aprendi! Se isto faz parte de uma macumba qualquer, quem a fez que se apresente para lhe dar os parabéns, pois conseguiu aqui um belo trabalhinho!

Matilde, ainda falta a unha encravada para a maldição acabar!

4 comentários:

  1. Paula, um texto tão bem escrito, no entanto daqueles que que nos deixam um nó na garganta!
    Depois da radioterapia vem a calmaria! Apenas um grande cansaço que nos tolhe por momentos a força nos movimentos, mas, descansando uns minutos, voltamos a fazer tudo.
    Muito dolorosa essa situação do Pintainho, mas tudo se vai resolver. Como o jogo dos passos: dá dois passos de gigante, cinco de formiga, um de caranguejo... mas a meta será alcançada!
    Força, querida Paula.
    Beijinhos da amiga virtual
    Teresinha

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    1. Como foi bom recordar o jogo dos passos... Já não me lembrava de como era bom ser criança. Obrigada!!!
      Um beijinhos grande

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  2. Amiga! Não sorrias por fora e chores por dentro tenta encontrar um meio termo para pelo menos teres um pouco de paz! Não está fácil e o Quim é sem duvida um anjinho! Tudo vai ficar bem !!!! Vai!!!

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