quarta-feira, 29 de novembro de 2017

10 meses


Todas as etapas do Pintainho têm sido saboreadas como únicas, mas confesso que este marco de 10 meses trouxeram alguma nostalgia. Olhar para a roupa de 42cm e ver como cresceu, recordar como ficava perfeitamente aconchegado no meu colo e agora ocupa bem mais que o meu peito e já dá abraços.

Acordar neste dia foi um recordar do que passou, e se passou rápido, e ver o quanto cresceu. Conseguimos mante-lo saudável, grande e forte!!

Na manhã de 14 de novembro, o Pintainho acordou e mostrou todo o seu reportório de piadas, gracinhas e conquistas. Foi de tal forma animado, que eu por momentos pensei que a cria me tinha sido trocada durante a noite. Bem, mostrou também o seu lado mais rebelde e, literalmente da noite para o dia, acho que arranjou um esquema para se começar a pirar do berço. Obrigada filho pela arritmia matinal.... supostamente o berço era seguro e tu não te punhas de pé.

Se em tempos não se ligavam às etapas de crescimento, agora ligamos e registamos. Todos os dias são conquistas, todos os dias há coisas novas. Ele aos poucos, chega lá, mesmo com as suas limitações arranja uma forma de fazer tudo o que os outros fazem. 

O Pintainho já vai falando, mas ganhou um hábito que não o sei definir. O Pintainho leva o dia a chamar pelo papá (eu como adoro até faço umas videochamadas para o papá ver), mas quando o ponho no carro ele não chama o papá, ele GRITA pelo seu papá. Vou no caminho com uma criaturinha a gritar PAPPPPPPÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!! Literalmente isto... Sinto que o raptei e acho que se me mandam parar vão pensar o mesmo.

No meio deste turbilhão é bom ver que conseguimos alcançar todas estas etapas e que ele está bem. Os bebés querem-se felizes, e eu tenho a certeza que o nosso Pintainho é uma criança feliz.
O tempo não pára, por isso criem memórias, apertem, beijem, digam o quanto os amam, sigam o coração sem medos, porque vão acertar.

domingo, 19 de novembro de 2017

São Martinho

Joaquim Barata, Algarvio de gema, era um civil militarizado. Homem de família, honesto e de grandes valores. Vivia em Lisboa, mas assim que podia fugia para a terra e dedicava-se, entre outras coisas à pesca. Adorava passar tardes de cana em punho. Era teimoso que doía, mas um teimoso tão bom...

O meu avô morreu há 22 anos. Morreu de cancro, no dia de São Martinho.



É assim que gosto de o recordar, é esta a memória que tenho guardada, ele sentado no seu sofá enquanto eu e o meu irmão fazíamos de comando de televisão. As crianças de hoje não sabem o que é ser um comando de televisão pois não?..

Foi ele que me comprou a minha primeira bicicleta, foi com ele que aprendi a andar sem rodinhas, era ele que estava à minha espera quando a campainha da escola tocava, foi parte integral da minha vida até ter partido.
Assim que a escola terminava, lá se carregava o carro e rumávamos em direção ao sul, na sua carrinha verde. Como eram boas estas viagens. Bem, nem tudo é perfeito e eu e o João juntos no mesmo metro quadrado dava chapada certa, podem imaginar as viagens não é?!

O meu Avô chamava-me de "Corna", sim isso mesmo., e  eu adorava! Havia algo de carinhoso ali e eu que era uma fofinha derretia-lhe o coração como ninguém.

Os Avós querem-se na vida dos filhos, porque só aos Avós lhes é possível criar memórias destas.

Quando descobri que tinha um Pintainho no ventre, a escolha do nome foi fácil. O Pintainho chamaria-se Joaquim e teria o nome de um Homem Grande. Assim foi!
O Pintainho carrega com ele um nome de família, mas sem peso de coisas más, não foi essa a intenção. O Pintainho poderá contar, que tem o nome igual ao do Bisavô, que foi um Homem que  criou todas estas memórias  boas na mãe. Para mim os legados são estes, cheios de amor.

Dizem que São Martinho cheira a castanhas, mas para mim cheira a colo do Avô.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Encolhi o Super-Homem!!!


Quando os bebés nascem, nasce com eles uma planóplia de comentários e observações. Os bebés acabam de nascer e já são parecidos com o pai ou com a mãe. Aliás, cheguei a fazer uma eco 4D e ouvi de tudo, menos que ele era... ele próprio! Tinha o cabelo do pai... tinha o nariz da mãe... enfim, tudo o que possam imaginar. Para mim era só o bebé mais amoroso de sempre e tudo o resto era ruído.

Os bebés estão (normalmente) 9 meses demolhados nas entranhas da mãe. As primeiras 24/48 horas (para não dizer mais) ainda estão inchados, enrugados e muitas vezes com uma cor.... esquisita. Como é que são parecidos com alguém sem ser com eles próprios?! Eu acho que todos os recém-nascidos são amorosos, tenho uma perdição por bebés e se a minha vida fosse outra tinha muitos, mas nunca os acho parecidos com nada. Mas pode ser um problema meu.

Dizem (lá está), que o Pintainho quando nasceu era parecido comigo, pequenino e com muito cabelo, até tinha patilhas! Mas o tempo foi passando e quem já viu o Pintainho ao vivo e a cores sabe que a única coisa que puxou à mãe, foi na simpatia (modéstia à parte). Bem podem dizer que é parecido comigo (agradeço a tentativa e simpatia) porque não é! É a cara (para não falar no resto) do Super-Homem!

Sabem o que acontece às camisolas de lã quando são colocadas na máquina a 90 graus? Pois bem, o Pintainho é tão mas tão parecido com o pai, que cada vez que olho para ele, tenho a sensação que pus o Super-Homem na máquina de lavar a alta temperatura e que ele encolheu! 

Vá Super-Homem, estou a admitir publicamente que o Pintainho é um "mini you".

#atoressecundarios - A Madrinha

Mafalda com voz de anjo, Psicóloga Clínica e mãe da doce M. Trabalha com perdas e lutos, colos cheios de tudo e de nada, mas mesmo assim tem um coração doce.

Há perguntas difíceis de colocar, e estas foram sem dúvida nenhuma difíceis. Que sorte que eu tenho em ter uma Mafalda como esta!

Sofre longe de mim, e como sofre com tudo isto. Tem a capacidade de estar ao meu lado sem vacilar, mesmo com o coração a sangrar. Consegue deixar-me chorar e obriga-me a respirar ao mesmo tempo. Ronda-me nos bons e maus momentos, como um verdadeiro anjo da guarda que é. Está sempre pronta para me amparar.

Acompanhou a minha gravidez conturbada, era muitas vezes a primeira cara que via quando saía da sala da ecografia. Destemida e resiliente, procurou exaustivamente respostas e soluções para tudo o que me estava a acontecer. Bateu a todas as portas que conhecia e procurou os melhores entre os melhores em busca de soluções e respostas.

É nela que deposito o meu bem mais precioso caso algum dia eu vá para o céu. O Pintainho precisa de pessoas assim, que o deixem crescer, mas que ao mesmo tempo, saibam conservar a bolha de coisas boas que tenho tentado construir. Que saibam contar histórias, e que lhe contém o quanto o amo. O meu Pintainho tem um verdadeiro anjo da guarda como madrinha.

Hoje, no silencio deste dia sombrio, não são precisas palavras para saber que aí estás e sei que sabes que eu estou aqui.

Não existe nada que eu possa fazer que retribua tudo o que ela fez e faz por mim. Posso viver 100 anos e agradecer todos os dias, que mesmo assim será pouco. Será sempre pouco!


Esta é a Mafalda:

> Quem é a Mafalda?
Boa pergunta! A Mafalda é mãe, filha, mulher, amiga, reivindicativa (ou refilona para alguns) e esforçada, sempre a correr de um lado para outro, a fazer o melhor que pode enquanto tenta não se sentir culpada por não conseguir fazer tudo como gostaria.

> És Psicóloga, especialista no Sono, mãe da doce M. Sentes que os desafios da maternidade põem à prova a profissional que há em ti?
Sinto que a maternidade, com tantos desafios de ordem vária, me deu outra perspetiva do mundo. Há um antes e um depois. Tem-me ajudado a ser mais paciente, mais compreensiva sobretudo nos momentos em que me sinto mais cansada (leia-se final do dia) e a aceitar que muitas vezes só se pode mesmo viver um momento de cada vez. Sem dúvida me torna melhor psicóloga, num melhor equilíbrio entre a teoria e as dificuldades que os pais podem sentir, na realidade, a implementá-la. Embora tenha uma filha que sabe dormir tranquilamente na sua cama, sei bem o é que dormir mal durante anos em resultado dos seus problemas de saúde.

> A escola preparou-te para lidar de perto com um cancro?
Na faculdade não nos preparam para lidar com o cancro, muito menos para o embate quando nos toca a nós ou aos nossos. Penso que só mesmo a escola da vida nos força a fazê-lo e mesmo assim é completamente diferente ser lead singer ou back vocal na doença.

> Como é ser Psicologa e amiga de alguém que é portador de um cancro?
Não sei. Porque se sou amiga não consigo ser psicóloga. Contigo tive de gerir as duas vertentes pelas circunstâncias nada comuns - inesperadamente, acontece uma coisa terrível a uma amiga, num momento tão especial e desejado da sua vida, mas esta descoberta acontece no meu local de trabalho, no serviço onde sou eu quem dá apoio psicológico, por uma equipa de quem gosto e com quem discuto tantos casos clínicos. De repente, pela velocidade estonteante a que tudo aconteceu, vejo-me nos bastidores da tua doença, cujas impressões ouço e que não me cabem a mim dar-te (e por isso não dei), mas que me ajudaram a gerir o que sentia e como te apoiar - aqui, claro está, como amiga. Por isso rapidamente te encaminhei para outras psicólogas, ambas da minha inteira confiança, para te darem e aos teus o apoio necessário. Só podia (e só quero) ser tua amiga nesta caminhada.

> Este processo não foi fácil, e tu sofreste tando ou mais que eu sem nunca o demonstrares. Onde é que se conseguem forças para se ser um pilar, quando o coração sangua?
É curioso escrever sobre algo que nunca falámos pessoalmente. Porque parece “indecente” falarmos do nosso sofrimento quando quem está a passar por aquele turbilhão estará a sofrer exponencialmente mais. Quando olho para trás vejo todos os imprevistos num crescendo - a alteração renal, o pé boto bilateral... Lembro-me, nas várias vezes em que nos vimos na Obstetrícia, do Super Homem dizer - “cada vez que cá vimos só nos dão más notícias!”
Lembro-me de quando me disseste que sentiste um nódulo no peito - mais uma vez, na sala de espera da Obstetrícia. Gelei mas imediatamente pensei “não há-de ser nada”. Queremos sempre negar que coisas más acontecem a pessoas boas e de quem gostamos. Lembro-me da notícia que ouvi dos médicos e da pressa que todos tiveram para diagnosticar. Aqui sim, começou a cair tudo. Falei com os médicos do hospital, com médicos amigos para outras opiniões, para saber o que esperar para te tentar apoiar o melhor possível. E sim, chorei junto de amigos comuns, pela surpresa desagradável, pelo medo, por tudo o que ainda viria (e nem sonhava com as coisas “relativamente comuns” que se seguiriam - já te disse que devias mudar o nome do blog!). Mas sou uma pessoa orientada para a resolução de problemas e isso deu-me força.
O saber que estavas a ser bem acompanhada também. As restantes fui buscá-las à partilha com amigos pessoais e comuns, ao apoio que ainda hoje nos continuamos a dar, ao quanto gosto de ti e, sobretudo, a quem és. Admiro-te imensamente pela forma como tens conseguido lidar com a doença e com os tratamentos, como consegues gerir o imprevisto, por nos conseguirmos rir de tantos incomuns e por conseguires por-te a nu neste blog. Tenho a certeza que eu não conseguiria lidar da mesma forma. És extraordinária.

> Foste a segunda pessoa que me viu careca. Como foi para ti esta mudança?
Lembro-me, mais uma vez, perfeitamente do momento. Desta vez não foi na Obstetrícia mas na sala de espera do Hospital de Dia. Estavas de costas para a entrada, sozinha, mas reconheci-te imediatamente. Foi apenas mais um tomar de consciência de que “isto está mesmo a acontecer”! Não me chocou o “corte”, acho até que te ficava bem, mas o sim a maneira como o fizeste e a forma tranquila como mo contaste! Mas lá está, és tu! Pegaste numa adversidade, enfrentaste-a e procuraste resolvê-la da melhor forma possível.

> És minha amiga e madrinha do Pintainho, no teu dia-a-dia acompanhas casos de perdas, tiveste e tens um papel ativo em todo este meu processo. O que dirias a alguém que se encontra na mesma posição que tu?
Foi com muito alegria que recebi a foto com o pedido para ser madrinha do Pintainho, que guardo com todo o carinho. Felizmente neste percurso também cabem boas recordações! Aceitei de coração, ciente de toda a responsabilidade e só espero estar à altura. Conheço-o desde as ecos, do berço da maternidade, das vossas inúmeras visitas ao hospital e felizmente começamos a ver-nos em contextos mais aprazíveis! Tem sido um prazer vê-lo crescer. Tem muito do pai, mas tem a tua boa disposição e não há momento em que não o tenha visto sorridente, apesar dos gessos e de todas as maldades necessárias! Também ele nos ensina que em cada situação difícil há sempre um sorriso à espreita! Mal posso esperar para ver o que fará em seguida! O que diria a alguém na mesma posição que eu? Que dê tudo o que tem de acordo com o que o outro precisa em cada momento. Quando te via tão positiva, não queria fazer perguntas que te poderiam tirar o sorriso. Há coisas que queremos dar ou dizer mas há momentos em que outro pode estar mais ou menos disponível para receber; doseá-las, mesmo que se queira dar tudo.
Que respeite o silêncio, mesmo que seja ensurdecedor. Que ajude a sorrir, pelo menos uma vez ao dia. Que continue a ser quem sempre foi na relação com a pessoa. E que não pense na morte. Vai chegar a todos. Mas naquele dia, não!