sábado, 31 de março de 2018

O Nosso Muito Obrigado

Nesta vida onde as chances são tão escassas, temos que aproveitar cada porta que se abre para nós.
Passou a ser esse o nosso lema desde o passado dia 12/01/2017 e certamente será assim que iremos continuar a encarar as oportunidades que a vida nos continuará a dar.


Queremos agradecer de todo o coração, pela oportunidade que um grupo de mães, de forma anónima, nos deram, para podermos prosseguir a nossa vida o mais rapidamente possível.



Foi com essa forma "anónima" que nos forneceram uma quantia de 1552€ para podermos mudar de tratamento ao pé boto do pintainho.

A todos aqueles que não mencionei, mas que se cruzaram e irão cruzar no nosso caminho, agradecemos, pois todos eles influenciam a atingir o que tanto queremos celebrar.
Esperamos ter a oportunidade de mostrar o desfecho deste capitulo de uma forma mais significativa e muito brevemente, onde esperamos não vos desiludir.
Ás pessoas que estiveram ao nosso lado desde o primeiro dia, queremos agradecer também todo o apoio, força e segurança que nos ajudam a alcançar esta grande meta, que é o pintainho andar pelo próprio pé,  pois sem eles não será possível superar esta enorme prova de fogo.
Hoje, não posso esquecer o papel determinante que algumas pessoas  num corredor de hospital e numa hora muito dificil, tiveram para nos colocaram numa nova luta até alcançar esta tão desejada meta.
A quem não mencionei, mas esteve sempre presente ao nosso lado, quero lembrar que não estão esquecidos: Vocês foram imensamente importantes para concluir este percurso.

Assin: o Homem e Pintainho

domingo, 25 de fevereiro de 2018

O Inicio

Por motivos menos bons, deixo a ultima mensagem de despedida acompanhada com o sorriso que me contagiou e acompanhou durante longos e bons anos.



Assinado: Super-Homem

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Despedida

Se me estão a ler neste momento, mais precisamente este texto, é porque eu já não me encontro cá.
Pensei muito antes de o fazer, foram muitas as linhas que escrevi e apaguei, mas resolvi avançar porque achei que se me leram durante tanto tempo, mereciam um agradecimento.

A luta foi grande, foram muitas as vezes em que pensei em desistir, mas também foram muitos os motivos que me levaram a continuar. Um deles todas as mensagens e palavras de força e, como sabem o Super-Homem proibiu-me de morrer.

Confesso que assim como nunca me chocou ver uma pessoa com cancro, em comparação com outras patologias que me causam alguns arrepios, também nunca acreditei na minha cura. Talvez um presságio não sei explicar. Para mim, no dia 21-01-2017 tive a minha sentença, para mim era certo que iria morrer de cancro. Durante os primeiros 10 meses, agarrei-me a palavras de incentivo, ao "vai correr tudo bem", a estudos que dizem que "estamos safos pelo menos 5 anos", a terapêuticas alvo com bons resultados. Durante os primeiros 10 meses não olhei muito para a outra face da moeda, aquela que nos indica que uma pequena percentagem de pacientes não tem resposta aos fármacos espetaculares. É a primeira vez que estão a ler uma coisa assim dita por mim não é?... por norma eu até sou parva e tento ter piada...

Para mim, não faz qualquer sentido tudo isto, não consigo perceber. Deixo os melhores dos melhores sem ter tido tempo de fazer tudo o que queria. A verdade é que nunca tempos tempo! Eu cá para dizer e deixar feito tudo o que gostava teria de ter pelo menos mais uma vida e de preferência sem cancro.
Ao longo de todos estes meses, encontrei pessoas espetaculares, revivi velhos amigos, percebi que sou uma pessoa rodeada de coisas boas. Muitas foram as palavras de incentivo que dei a quem me procurou, e acreditem que foram de coração. Eu acredito na cura do cancro embora saiba que é uma doença crônica, mas sou uma rapariga de factos e ciência e nunca acreditei na minha cura.

Não pertenço a nenhum grupo de apoio, tentei mas não consegui, não me identifiquei com nenhum. Procurar alguém como eu num grupo de apoio foi impossível. Encontrar alguém que me respondesse verdadeiramente às minhas perguntas era impossível também. Só ouvia o "vai correr tudo bem" quando estava com os pés para a cova, ou o "essas injeções não custam nada para quem já fez químico" quando na realidade eram as injeções mais dolorosas que alguma vez experimentei. Ora, para isto fico com a minha parvoíce que já é o suficiente!

Os tratamentos oncológicos não são fáceis. Nenhum deles em nenhuma fase. É um bater de frente com a morte e a falta de tempo. É sentar o glúteo numa sala de cinema e ver a nossa bibliografia incompleta, é escrever um livro sem fim. É definir prioridades, traçar um plano com um fim incerto, é pensar no "e se" vezes e vezes sem conta.  Ter cancro de mama é mau, ter cancro cerebral é olhar para nós e tentar imaginar o que são os cuidados paliativos e até onde queremos ir. Hoje, em plenas capacidades e com 33 anos, até onde é que eu quero ir?... até onde é que se considera viver? Pedirem-me para deixar escrito tudo o que quero, sem saber o que aí vem é a coisa mais estranha que alguma vez ouvi. Eu sei lá o que quero!! Bom, tive de saber, tive de refletir bem, afinal todas as decisões tomadas poderiam influenciar a vida do Super-Homem é Pintainho e coisa que eu não gosto é condicionar a vida dos outros, assim como chegar atrasada a qualquer lado.

Para quem se encontra na luta, é importante acreditar na cura sim. É importante continuar a fazer planos, a abrir os olhos de manhã, e a sonhar. Também é importante chorar e deitar cá para fora! Chorei muito, todos os dias, mas também me obrigava a levantar e a limpar as lágrimas. Quem me acompanhava não precisava de me ver assim é a verdade é que praticamente ninguém me viu chorar.
Aqueles que se encontram na luta, não tenham medo de fazer perguntas, ou de pedir segundas e terceiras opiniões. Sigam o coração mas não acreditem "na banha da cobra". Com cancros não se brinca e não há produto milagroso! Cancro é a doença do século!

Não tive tempo de publicar tudo o que queria, foram muitos os #atoressecundarios que ficaram por publicar, foram muitas as histórias tolas que ficaram por acabar. Aos #atoressecundarios que ficaram por publicar as minhas desculpas mas não tive tempo...

Se aconteceu algum milagre na minha vida, foi os Homens da minha vida terem sobrevivido ao acidente lá em casa. Não tenho dúvidas!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Pausa


Às vezes é preciso parar para respirar e organizar as coisas.

Já perceberam que tenho estado ausente, é preciso reorganizar por vários motivos. A casa nova, as novas rotinas do Pintainho, a nova vida a três e todas as coisas boas que estiveram em pausa estes cinco meses. Foi preciso entrar, fechar a porta fazer destas paredes como que se de um retiro se tratasse. Sim, estivemos em retiro, fechados, só os três.

Tenho estado ausente mas a trabalhar, nesta minha nova profissão de "bloguer" como gostam de lhe chamar.

Vou ali e já volto, mas vou ser breve, porque o sol brilha todos os dias, pelo menos por aqui, dentro destas paredes ainda por pintar.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

#atoressecundarios - A Cozinheira

Os meus tios não fazem a coisa por menos, e em vez de cozinharem com calminha, fizeram a refeição a dobrar. Confesso que se uma princesa foi dificíl, duas ao mesmo tempo… Já sabem não é?! Acabaram-me com o reinado!

Bom, trauma ultrapassado que a vida são dois dois dias.

Se me vão perguntar o porquê do texto da Tatiana ter saído primeiro que o da Magda, aviso já que o critério foi mesmo por ordem de chegada. Sim…. Existe uma tendência na comparação de gémeos, coisa que me irrita principalmente a “piada do jogo das diferenças”.

Podíamos ter muita coisa em comum, e facto até temos. A Magda tem uma grande facilidade em me desbloquear. Sabem que nos falta o ar e já não conseguimos reagir? Pois bem, ela desbloqueia-me e avança sem medos. É uma lufada de ar fresco, mesmo quando assume as rédeas da coisa.
Determinada, com sangue na guelra, com medos como é óbvio, mas que não a impedem de seguir em frente e lutar pelo que acredita.

Somos um bocadinho “parvas” e quero acreditar que temos um sexto sentido apurado. Durante alguns meses partilhámos o mesmo Ginecologista e, brincá-mos (também muitas vezes) que um dia teríamos um filho ao mesmo tempo. Descobrimos com uma semana de diferença que os cozinhados tinham dado frutos e ambas tínhamos um bolo no forno. Juro que não combinámos nada! Cada uma na sua casa, com a sua receita, com o seu ajudante de cozinha. Mas, já viram?! Que organizados!!!! Uma coisa é certa, arrumá-mos o assunto dos filhos nesta família por uns tempo. Vinham (e vieram) dois de uma só vez, com 15 dias de diferença e sempre deu para a malta de organizar nas visitas e etc. Querem sabem o melhor? O bolo dela é cor-de-rosa e o meu é azul!


Com ela partilhei uma gravidez, o bom e aquele mau que ninguém conta. Ainda hoje, o bom e o mau da maternidade, entre nós não filtro. Deu-me muito mais atenção a mim do que eu a ela. Com tudo o que se passou, sei que faltou muito da minha parte e não faltou nada da parte dela. Esteve sempre aqui, e eu nem por isso. Virei o centro das atenções e sinto que ela passou muito entre as pingas da chuva. Desculpa por isso! Gosto muito de ti!


Esta é a Magda:

> Quem é a Magda?
Boa pergunta...  Não é fácil falar de nós próprios! A Magda é uma pessoa simples, amiga do amigo, aquela amiga que sabe ouvir e não mandar a baixo. Uma pessoa normal!

> És Designer e mãe de uma Princesa com menos 15 dias que o meu Pintainho. Sentes que os desafios da maternidade põem à prova a profissional que há em ti?
É verdade, é um teste porque eles exigem muito de nós e esta princesa em especial exige mesmo muito! Desde muito cedo que usa pilhas Duracell, mas é tão bom!!! Por isso a nível profissional é preciso muito mais concentração e um esforço redobrado para fazer tudo como fazia até ela aparecer! Mas é muito gratificante conciliar estas duas tarefas!!

> O nosso avô morreu de cancro, o teu pai teve um cancro e agora eu tive um cancro. Existe alguma coisa que nos prepare para lidar com isto de perto?
Não, acho que nunca estamos preparados para estas situações e nunca vamos estar. Do avô não tenho muitas memórias mas posso dizer que tanto no caso do meu pai como no teu foram vocês que me deram forças para não desanimar apesar de eu acreditar sempre que iam ultrapassar! Eu sou muito positiva e acho sempre que há uma solução boa para tudo mas nestas coisas há sempre, nem que seja num pensamento muito distante, um momento em que nos passa pela cabeça que pode acontecer o pior... É tu se calhar achavas que não sabias lidar mas lidas-te muito bem! Foste FORTE e mostras-te-nos a todos como é possível gerir tudo que te estava a acontecer de cabeça erguida! 

> Como é ser prima de alguém que é portador de um cancro?
É uma sensação de "parece impossível", ela é tão nova não pode ser... É sentir que podia ser comigo, porque não...? Mas ao mesmo tempo é ver como és forte, como te transformas te numa pessoa mais forte, sei que tiveste muitos momentos que te devia passar tudo pela cabeça (que não querias demonstrar) mas nunca baixas-te os braços, foi muita coisa a passar-se ao mesmo tempo e tinhas de arranjar forças e tu tiveste essa força! És uma mulher com M grande!! 

> Vivemos a gravidez de mãos dadas. Como foi para ti saber tudo o que me estava a acontecer?
No início nenhuma de nós imaginava o que se ia passar... Foi tão engraçado, antes brincávamos que ainda acontecia e não é que aconteceu mesmo!!?! Tínhamos as 2 um bolo no forno   ao mesmo tempo!! Mas no decorrer da gravidez eu ia tendo sempre boas notícias e a ti volta não volta lá vinha uma noticia menos boa... Nas primeiras vezes acreditei que ficava por ali e que o que tinham detectado no pintainho ia ser ultrapassado. Mas as notícias menos boas não paravam de cada vez que ias a uma consulta. Era um misto de sentimentos... Ficava muito feliz por mim porque estava a correr tudo bem mas ao mesmo tempo sentia um calafrio de pensar naquilo que estarias a sentir com as notícias que ias tendo. Até que chegou o dia de dizeres que tinhas alguma coisa na mama e ias fazer uma biopsia... A primeira coisa que me veio à cabeça era que fosse leite e quis que acreditasse nisso até saberes o resultado, eu pensei muitas vezes que podia ser leite e não seria nada de grave mas afinal a tua intuição estava certa... Mas como em tudo o que te aconteceu tu ias-te a baixo mas arranjavas logo forma de arranjar forças e fazer o que havia a fazer. Sei que em algumas alturas se calhar não estavas assim tão calma mas querias parecer! 

> Foste das primeiras pessoas que me viu careca. Como foi para ti esta mudança?
Confesso que não me causou qualquer impressão, ficaste linda! Mas percebo perfeitamente que o cabelo é um "pormenor" muito importante na nossa auto-estima, falo eu que sou paranóica com o cabelo (se calhar é de família ). Mas tu mais uma vez foste forte e fizeste de uma forma drástica antes que começa-se a cair mais, não esperas-te que o João te fosse cortar. Não queria acreditar quando disseste como tinhas feito sozinha. Acredito que tenha custado muito.

> És minha prima, acompanhas-te de perto todo este processo. O que dirias a alguém que se encontra na mesma posição que tu?
Acho que não há muito que se possa dizer a não ser que dê todo o apoio que for preciso e possível, que saiba ouvir apenas se a outra pessoa não quiser que lhe façam perguntas. Basicamente tentar perceber quais as necessidades da pessoa doente e seguir o coração! 

domingo, 14 de janeiro de 2018

Por esta hora

Há um ano, por esta hora estava numa sala de partos no Hospital Beatriz Ângelo. Carregadinha de anestesia, sem dormir há mais de 24h, e num turbilhão de emoções que não sei explicar. Se por um lado estava desejosa em te conhecer, por outro tinha gravada toda a dor de uma biopsia poucas horas antes e as vozes dos médicos que só repetiam que "estavam muito preocupados e não queriam perder tempo".
Não era suposto ser assim. Nada nos prepara para ser assim. Mas foi assim!
Teimas-te em não nascer numa sexta-feira 13, não te critico, também gosto mais de números pares e o 14 fica perfeito em ti.


Depois de mais de 24h o Pintainho lá resolveu dar o ar de sua graça mas como estava bem lá dentro teve de ser arrancado a ferros e o Super-Homem não pôde assistir ao seu nascimento, apesar de ter entrado muito pouco tempo depois.
Eram 9:46h quando o Pintainho conheceu o mundo. Pequenino, com apenas 42cm, mas um verdadeiro boneco onde tudo lhe ficava ridiculamente grande.
Às 9:46h a nossa vida mudou para sempre, já não éramos só dois, éramos dois e mais um bocadinho fofinho.

Ainda no recobro tive a confirmação de que tinha cancro de mama. Quando ouvi avisarem de duas camas livres na enfermaria e a médica manda a "a menina do cancro de mama" (e outra). Sabia que era eu. Sim, foi assim que eu soube o que significavam as palavras "estamos muito preocupados".
Apesar disto, não o contei a ninguém, nem ao Super-Homem, preferi contar mais tarde e deixa-lo desfrutar daquele momento.

Hoje, quase um ano depois, recordei com um arrepio na espinha todos aqueles momentos, todo aquele turbilhão de emoções que julgava bem guardados.
Hoje, olho para o Pintainho e vejo com cresceu. Não estou em mim, como é que é possível já ter passado um ano?? Ainda ontem era um bebé pequenino e hoje já fala...
Bem, não é só ele que está de parabéns, eu e o Super-Homem conseguimos mante-lo bem de saúde durante 12 meses. Acho que passámos no teste não?!
Já agora, parabéns só depois das 9:46h que eu sou um bocado supersticiosa!