domingo, 17 de dezembro de 2017

Esbardalhei-me!

Pois é, há anos que isto não me acontecia, esbardalhei-me ao comprido no corredor do hospital dia! Mas quando digo ao comprido, foi literalmente ao comprido e até o braço que não estica se esticou. Fiquei escarrapachada no chão!

Ia eu muito “contente” quando de repente piso o cachecol que estava no carrinho do Pintainho e pumba! Toda eu no chão e o carrinho todo-o-terreno do rapaz virado. Foi todo um aparato em meu redor e as pessoas ficaram assustadas. Mas eu até estava bem, só precisava que endireitassem o carro do rapaz! 


Agora olhando bem para a coisa, o Pintainho estava firme no seu carro (que agora tenho a certeza que foi das melhores compras que fiz), de olhos abertos e a rir. Provavelmente da figura da sua progenitora esparramada no chão.

Naquela altura eu estava bem do físico, já o psicológico ficou bastante afetado... e se eu estivesse sozinha?! E se o Super-Homem não estivesse lá?! E se isto volta a acontecer?! E se?! E se?! Bom, aqui vem toda uma avalanche de probabilidades e leis da física. Se o saco que está pendurado no carrinho estivesse mais acima o peso seria outro, logo a probabilidade de isto acontecer seria... se eu me tivesse atirado logo para o chão em vez de me agarrar ao carrinho... mas que mãe é que a cair se agarra a um carrinho de sabe que ele vai virar?! Chego à conclusão (agora, passados 5 dias e depois de chorar baba e ranho) que TODAS se agarravam ao carrinho! Mas coração de mãe entra em negação até que se esbardalhem ao comprido.

Naquele dia o corpo estava bem e o psicológico profundamente afetado, hoje o psicológico está bem mas o corpinho percebeu o quanto duro é o chão daquele hospital. Estou bem, mas um bocadinho muito dorida.

“Aquele dia” foi o dia 14-12, dia em que o Pintainho comemorou os seus 11 meses. Quero acreditar e ele acha que eu sou uma mãe super radical e que para comemorar esta data o levou a andar de montanha russa! 
Vou tentar ser criativa em janeiro e fazer qualquer coisa que não implique nódoas negras.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

#atoressecundaros - A Super-Mulher!

Chego à conclusão qu fazer perguntas é dificíl!

Há histórias de vida surpreendentes e esta é uma delas.  Corta-nos a respiração!
A Carla, que felizmente se cruzou na minha vida é uma verdadeira Super-Mulher! Tem a capacidade de encarar a adversidade (e já teve muitas) com um sorriso na cara e ainda perder um bocadinho para nos brindar com um abraço. A Carla dá dos melhores abraços demorados que alguma vez recebi.
Para além de mãe, mulher e terapeuta, é autora do Blog “Prematuro… Até quando?” Ora vejam se eu não tenho razão!
Foi na história de vida desta Super-Mulher que tirei muito do que sei hoje. Foi ali que fui buscar inspiração para conseguir estar sã estes últimos 10 meses da minha vida, pois ela e a sua família são um verdadeiro exemplo de força, determinação e fé. Sim porque a Carla também tem um Super-Homem, que luta de mãos dadas, lado a lado e sem hesitar!
Se existisse uma expressão nossa, seria com toda a certeza “já chega!”



Esta é a Carla:

> Quem é a Carla?
Esta pergunta deveria ser respondida pelas pessoas que fazem parte do meu percurso. Talvez surgissem diferentes definições. Creio que há muitas Carlas dentro de mim. A forte, a frágil, a doce, a dura, a alegre, a triste, a sonhadora, a realista… Talvez um pouco de todas em cada dia, em cada contexto, em cada lugar…

> És Terapeuta, mulher e mãe de uma Princesa e de um Príncipe. A Inês nasceu prematura e o Pedro foi um grande prematuro. Trabalhas com intervenção precoce, és coordenadora do Núcleo das Perturbações do Espectro do Autismo e tens utentes que te procuram de todos os pontos do país. Sentes que, enquanto mãe, tens um desafio acrescido?
Creio que o meu desafio é, como o de todas nós, o equilíbrio. A procura diária do tempo para tudo, da competência em cada um dos papeis e o sabor amargo de em tantos dias sentir que algo ficou desequilibrado. Há momentos em que sinto que dei menos do que deveria ter dado,  como mãe, como profissional, como mulher, como amiga… 

> Os teus Príncipes tiveram complicações após o parto, mas o Pedro tem uma lista extensa de patologias e complicações, e teve um internamento longo, muito longo. De que forma as tuas competências, enquanto profissional, influenciaram a tua forma de reagir perante a adversidade?
Tanto na minha filha como no meu filho, as minhas competências profissionais tiveram sempre os dois lados da moeda. Por um lado, saber os termos técnicos e as possíveis consequências daquelas situações causaram-me um sofrimento enorme. Como me dizia outra mãe na neonatologia, a ignorância nestas situações pode ser uma bênção. Sofri bastante por antecipação, por imaginar as lesões que poderiam resultar de cada episódio. Por outro lado, as mesmas competências ajudaram-me a ter ferramentas para estimular os meus filhos e acreditar na plasticidade e na capacidade de ultrapassar os obstáculos. Eles têm sido os meus grandes professores. Ensinaram-me que tudo é verdadeiramente possível...

> É possível dividir a Carla mãe da Carla profissional?
Totalmente impossível. Trabalho diariamente com crianças e com os seus pais. Tento recebê-los e ajudá-los como gosto de ser recebida enquanto mãe. Já recebi más notícias em relação aos meus dois filhos de uma forma extremamente dolorosa e que me deixaram destroçada e sem rumo. Quando os pais me procuram é para receberem muitas vezes um diagnóstico difícil, mas faço o meu melhor para que que saiam do meu gabinete com esperança e com um rumo para seu filho.

> Sentes que a vida te pôs à prova?
Inúmeras vezes, já vivi alguns dos meus piores pesadelos… Ainda assim, encontramos sempre pessoas com provas maiores que as nossas. Olho para ti e fico em silêncio...

> Tinhas 17 anos quando a tua mãe partiu com um cancro no Pâncreas. Acompanhaste este meu processo. O que dirias a alguém que tenha passado ou esteja a passar pelo mesmo?
Que a vida é verdadeiramente frágil, ainda que por dentro de pessoas tão fortes. O cancro torna-se terrível porque traz  consigo muitas lutas, muitas derrotas, muitas esperanças, muito sofrimento... No entanto, também pode levar a um caminho de superação e de valorização da vida. Nenhum de nós sabe quanto tempo que tem pela frente… o cancro relembra-nos disso. E da importância de cada dia,de  cada momento, de cada pessoa. Devolve-nos muitas vezes o olhar para o essencial.

> Acreditas que as despedidas são apaziguadoras?
Acredito que deveríamos estar mais tempo com quem gostamos, dizer mais vezes o que queremos dizer, dar prioridade ao amor e às pessoas que são tão essenciais nas nossas vidas. Nunca saberemos que momento será o último com qualquer uma das pessoas que mais amamos...

> Um abraço cura?
Um abraço salva.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Inspiração



Confesso que já há muito que nos apetecia agarrar na mala e sair para qualquer lado, mas temos adiado e adiado e adiado. Na realidade, e como diz o Super-Homem, "Se não fossem as condicionantes clínicas, já tinha comprado três bilhetes de avião." Desta vez existiu alguém que tomou a iniciativa e nos deu um valente chute no glúteo e nos mandou para um retiro!

Bem, até aqui foi o caos! Confesso que fazer a mala de uma criança de 10 meses mala comida mais toda uma catrefada de coisas que pode ser necessária, mas que eu bem sei que não vai servir para nada, não é tarefa fácil. Parecemos uns refugiados com tanta coisa...
O plano para este fim de semana é: não é! Não temos plano para além de comer!

O local ideal para respirar fundo e ir buscar um bocadinho de inspiração, no meio do nada, com uma varanda com vista desafogada, um frio bom, os passarinhos a cantar.... Aqui a minha pessoa que até anda calada, agarra nos seus equipamentos que têm estado esquecidos e tenta por as coisas em dia. Tentei, mas pouco e não insisti muito com a inércia que se abateu sobre este corpo. Já repararam que ando preguiçosa não já?... 

Como eu costumo dizer, às vezes o melhor remédio é mesmo vir à rua, levar com o sol na tromba e  respirar fundo para se estar pronto para o que aí vem. Bem, confesso que partir uns pratos também tem um efeito terapêutico extraordinário, mas sai mais caro que o sol (vejam o que vos compensa mais).
Tenho um querido colega (Olá Dona Otília!!!), que costuma dizer que às vezes é preciso sair da ilha para a poder observar bem. 
Bom, eu agarrei nos equipamento e sai da ilha, mas apercebi-me que a inspiração não estava na varanda com vista desafogada, nem no som dos passarinhos, nem na máquina fotográfica ou iPad. A inspiração estava na ilha e veio em tons de gritinhos e reboletas na cama King Size daquele quarto de hotel. O Super-Homem e Pintainho estavam imparáveis, pareciam duas crianças! Dei por mim a observar, afinal de contas eles têm 5 meses de brincadeiras, abraços e mimos para pôr em dia e eu só queria dormir um bocadinho... (o que também não aconteceu que o Pintainho agora grita).

Às vezes é preciso mudar a perspetiva para nos aperceber-mos o que está à nossa volta, e a minha inspiração de facto esteve sempre comigo, mas ando tão assoberbada que nem me apercebi. Na realidade estes últimos 5 meses não têm sido fáceis. O Super-Homem ainda não está connosco e todos perdemos. As nossas rotinas deixaram de existir para não falar em tudo o resto. Passámos a ser namorados, daqueles à moda antiga que ele vem todas as noites a casa da minha progenitora. Espero que o casório esteja para breve!

Continuo a achar que o sol na tromba é terapêutico mas a minha máxima mantém-se: No final de contas o que importa é o amor!