Chego à conclusão qu fazer
perguntas é dificíl!
Há histórias de vida surpreendentes
e esta é uma delas. Corta-nos a
respiração!
A Carla, que felizmente se
cruzou na minha vida é uma verdadeira Super-Mulher! Tem a capacidade de encarar
a adversidade (e já teve muitas) com um sorriso na cara e ainda perder um
bocadinho para nos brindar com um abraço. A Carla dá dos melhores abraços
demorados que alguma vez recebi.
Para além de mãe, mulher e terapeuta,
é autora do Blog “Prematuro… Até quando?”
Ora vejam se eu não tenho razão!
Foi na história de vida desta
Super-Mulher que tirei muito do que sei hoje. Foi ali que fui buscar inspiração
para conseguir estar sã estes últimos 10 meses da minha vida, pois ela e a sua
família são um verdadeiro exemplo de força, determinação e fé. Sim porque a
Carla também tem um Super-Homem, que luta de mãos dadas, lado a lado e sem
hesitar!
Se existisse uma expressão
nossa, seria com toda a certeza “já
chega!”
Esta é a Carla:
> Quem é a Carla?
Esta pergunta
deveria ser respondida pelas pessoas que fazem parte do meu percurso. Talvez
surgissem diferentes definições. Creio que há muitas Carlas dentro de mim. A
forte, a frágil, a doce, a dura, a alegre, a triste, a sonhadora, a realista… Talvez
um pouco de todas em cada dia, em cada contexto, em cada lugar…
> És Terapeuta, mulher e mãe de uma Princesa
e de um Príncipe. A Inês nasceu prematura e o Pedro foi um grande prematuro.
Trabalhas com intervenção precoce, és coordenadora do Núcleo das Perturbações
do Espectro do Autismo e tens utentes que te procuram de todos os pontos do
país. Sentes que, enquanto mãe, tens um desafio acrescido?
Creio que o meu
desafio é, como o de todas nós, o equilíbrio. A procura diária do tempo para
tudo, da competência em cada um dos papeis e o sabor amargo de em tantos dias
sentir que algo ficou desequilibrado. Há momentos em que sinto que dei menos do
que deveria ter dado, como mãe, como profissional, como mulher, como
amiga…
> Os
teus Príncipes tiveram complicações após o parto, mas o Pedro tem uma lista
extensa de patologias e complicações, e teve um internamento longo, muito
longo. De que forma as tuas competências, enquanto profissional, influenciaram
a tua forma de reagir perante a adversidade?
Tanto na minha
filha como no meu filho, as minhas competências profissionais tiveram sempre os
dois lados da moeda. Por um lado, saber os termos técnicos e as possíveis
consequências daquelas situações causaram-me um sofrimento enorme. Como me
dizia outra mãe na neonatologia, a ignorância nestas situações pode ser uma
bênção. Sofri bastante por antecipação, por imaginar as lesões que poderiam
resultar de cada episódio. Por outro lado, as mesmas competências ajudaram-me a
ter ferramentas para estimular os meus filhos e acreditar na plasticidade e na
capacidade de ultrapassar os obstáculos. Eles têm sido os meus grandes
professores. Ensinaram-me que tudo é verdadeiramente possível...
> É possível dividir a Carla mãe da Carla profissional?
Totalmente impossível.
Trabalho diariamente com crianças e com os seus pais. Tento recebê-los e
ajudá-los como gosto de ser recebida enquanto mãe. Já recebi más notícias em
relação aos meus dois filhos de uma forma extremamente dolorosa e que me
deixaram destroçada e sem rumo. Quando os pais me procuram é para receberem
muitas vezes um diagnóstico difícil, mas faço o meu melhor para que que saiam
do meu gabinete com esperança e com um rumo para seu filho.
> Sentes
que a vida te pôs à prova?
Inúmeras vezes, já vivi alguns dos meus piores pesadelos… Ainda assim, encontramos sempre pessoas
com provas maiores que as nossas. Olho para ti e fico em silêncio...
> Tinhas 17 anos quando a tua mãe partiu com um cancro
no Pâncreas. Acompanhaste este meu processo. O que dirias a alguém que tenha
passado ou esteja a passar pelo mesmo?
Que a vida é
verdadeiramente frágil, ainda que por dentro de pessoas tão fortes. O cancro
torna-se terrível porque traz consigo muitas lutas, muitas derrotas,
muitas esperanças, muito sofrimento... No entanto, também pode levar a um
caminho de superação e de valorização da vida. Nenhum de nós sabe quanto tempo
que tem pela frente… o cancro relembra-nos disso. E da importância de cada
dia,de cada momento, de cada pessoa. Devolve-nos muitas vezes o olhar
para o essencial.
> Acreditas que as despedidas são apaziguadoras?
Acredito que
deveríamos estar mais tempo com quem gostamos, dizer mais vezes o que queremos
dizer, dar prioridade ao amor e às pessoas que são tão essenciais nas nossas
vidas. Nunca saberemos que momento será o último com qualquer uma das pessoas
que mais amamos...
> Um abraço cura?
Um abraço salva.
Um abraço salva.
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