sábado, 31 de março de 2018

O Nosso Muito Obrigado

Nesta vida onde as chances são tão escassas, temos que aproveitar cada porta que se abre para nós.
Passou a ser esse o nosso lema desde o passado dia 12/01/2017 e certamente será assim que iremos continuar a encarar as oportunidades que a vida nos continuará a dar.


Queremos agradecer de todo o coração, pela oportunidade que um grupo de mães, de forma anónima, nos deram, para podermos prosseguir a nossa vida o mais rapidamente possível.



Foi com essa forma "anónima" que nos forneceram uma quantia de 1552€ para podermos mudar de tratamento ao pé boto do pintainho.

A todos aqueles que não mencionei, mas que se cruzaram e irão cruzar no nosso caminho, agradecemos, pois todos eles influenciam a atingir o que tanto queremos celebrar.
Esperamos ter a oportunidade de mostrar o desfecho deste capitulo de uma forma mais significativa e muito brevemente, onde esperamos não vos desiludir.
Ás pessoas que estiveram ao nosso lado desde o primeiro dia, queremos agradecer também todo o apoio, força e segurança que nos ajudam a alcançar esta grande meta, que é o pintainho andar pelo próprio pé,  pois sem eles não será possível superar esta enorme prova de fogo.
Hoje, não posso esquecer o papel determinante que algumas pessoas  num corredor de hospital e numa hora muito dificil, tiveram para nos colocaram numa nova luta até alcançar esta tão desejada meta.
A quem não mencionei, mas esteve sempre presente ao nosso lado, quero lembrar que não estão esquecidos: Vocês foram imensamente importantes para concluir este percurso.

Assin: o Homem e Pintainho

domingo, 25 de fevereiro de 2018

O Inicio

Por motivos menos bons, deixo a ultima mensagem de despedida acompanhada com o sorriso que me contagiou e acompanhou durante longos e bons anos.



Assinado: Super-Homem

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Despedida

Se me estão a ler neste momento, mais precisamente este texto, é porque eu já não me encontro cá.
Pensei muito antes de o fazer, foram muitas as linhas que escrevi e apaguei, mas resolvi avançar porque achei que se me leram durante tanto tempo, mereciam um agradecimento.

A luta foi grande, foram muitas as vezes em que pensei em desistir, mas também foram muitos os motivos que me levaram a continuar. Um deles todas as mensagens e palavras de força e, como sabem o Super-Homem proibiu-me de morrer.

Confesso que assim como nunca me chocou ver uma pessoa com cancro, em comparação com outras patologias que me causam alguns arrepios, também nunca acreditei na minha cura. Talvez um presságio não sei explicar. Para mim, no dia 21-01-2017 tive a minha sentença, para mim era certo que iria morrer de cancro. Durante os primeiros 10 meses, agarrei-me a palavras de incentivo, ao "vai correr tudo bem", a estudos que dizem que "estamos safos pelo menos 5 anos", a terapêuticas alvo com bons resultados. Durante os primeiros 10 meses não olhei muito para a outra face da moeda, aquela que nos indica que uma pequena percentagem de pacientes não tem resposta aos fármacos espetaculares. É a primeira vez que estão a ler uma coisa assim dita por mim não é?... por norma eu até sou parva e tento ter piada...

Para mim, não faz qualquer sentido tudo isto, não consigo perceber. Deixo os melhores dos melhores sem ter tido tempo de fazer tudo o que queria. A verdade é que nunca tempos tempo! Eu cá para dizer e deixar feito tudo o que gostava teria de ter pelo menos mais uma vida e de preferência sem cancro.
Ao longo de todos estes meses, encontrei pessoas espetaculares, revivi velhos amigos, percebi que sou uma pessoa rodeada de coisas boas. Muitas foram as palavras de incentivo que dei a quem me procurou, e acreditem que foram de coração. Eu acredito na cura do cancro embora saiba que é uma doença crônica, mas sou uma rapariga de factos e ciência e nunca acreditei na minha cura.

Não pertenço a nenhum grupo de apoio, tentei mas não consegui, não me identifiquei com nenhum. Procurar alguém como eu num grupo de apoio foi impossível. Encontrar alguém que me respondesse verdadeiramente às minhas perguntas era impossível também. Só ouvia o "vai correr tudo bem" quando estava com os pés para a cova, ou o "essas injeções não custam nada para quem já fez químico" quando na realidade eram as injeções mais dolorosas que alguma vez experimentei. Ora, para isto fico com a minha parvoíce que já é o suficiente!

Os tratamentos oncológicos não são fáceis. Nenhum deles em nenhuma fase. É um bater de frente com a morte e a falta de tempo. É sentar o glúteo numa sala de cinema e ver a nossa bibliografia incompleta, é escrever um livro sem fim. É definir prioridades, traçar um plano com um fim incerto, é pensar no "e se" vezes e vezes sem conta.  Ter cancro de mama é mau, ter cancro cerebral é olhar para nós e tentar imaginar o que são os cuidados paliativos e até onde queremos ir. Hoje, em plenas capacidades e com 33 anos, até onde é que eu quero ir?... até onde é que se considera viver? Pedirem-me para deixar escrito tudo o que quero, sem saber o que aí vem é a coisa mais estranha que alguma vez ouvi. Eu sei lá o que quero!! Bom, tive de saber, tive de refletir bem, afinal todas as decisões tomadas poderiam influenciar a vida do Super-Homem é Pintainho e coisa que eu não gosto é condicionar a vida dos outros, assim como chegar atrasada a qualquer lado.

Para quem se encontra na luta, é importante acreditar na cura sim. É importante continuar a fazer planos, a abrir os olhos de manhã, e a sonhar. Também é importante chorar e deitar cá para fora! Chorei muito, todos os dias, mas também me obrigava a levantar e a limpar as lágrimas. Quem me acompanhava não precisava de me ver assim é a verdade é que praticamente ninguém me viu chorar.
Aqueles que se encontram na luta, não tenham medo de fazer perguntas, ou de pedir segundas e terceiras opiniões. Sigam o coração mas não acreditem "na banha da cobra". Com cancros não se brinca e não há produto milagroso! Cancro é a doença do século!

Não tive tempo de publicar tudo o que queria, foram muitos os #atoressecundarios que ficaram por publicar, foram muitas as histórias tolas que ficaram por acabar. Aos #atoressecundarios que ficaram por publicar as minhas desculpas mas não tive tempo...

Se aconteceu algum milagre na minha vida, foi os Homens da minha vida terem sobrevivido ao acidente lá em casa. Não tenho dúvidas!

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Pausa


Às vezes é preciso parar para respirar e organizar as coisas.

Já perceberam que tenho estado ausente, é preciso reorganizar por vários motivos. A casa nova, as novas rotinas do Pintainho, a nova vida a três e todas as coisas boas que estiveram em pausa estes cinco meses. Foi preciso entrar, fechar a porta fazer destas paredes como que se de um retiro se tratasse. Sim, estivemos em retiro, fechados, só os três.

Tenho estado ausente mas a trabalhar, nesta minha nova profissão de "bloguer" como gostam de lhe chamar.

Vou ali e já volto, mas vou ser breve, porque o sol brilha todos os dias, pelo menos por aqui, dentro destas paredes ainda por pintar.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

#atoressecundarios - A Cozinheira

Os meus tios não fazem a coisa por menos, e em vez de cozinharem com calminha, fizeram a refeição a dobrar. Confesso que se uma princesa foi dificíl, duas ao mesmo tempo… Já sabem não é?! Acabaram-me com o reinado!

Bom, trauma ultrapassado que a vida são dois dois dias.

Se me vão perguntar o porquê do texto da Tatiana ter saído primeiro que o da Magda, aviso já que o critério foi mesmo por ordem de chegada. Sim…. Existe uma tendência na comparação de gémeos, coisa que me irrita principalmente a “piada do jogo das diferenças”.

Podíamos ter muita coisa em comum, e facto até temos. A Magda tem uma grande facilidade em me desbloquear. Sabem que nos falta o ar e já não conseguimos reagir? Pois bem, ela desbloqueia-me e avança sem medos. É uma lufada de ar fresco, mesmo quando assume as rédeas da coisa.
Determinada, com sangue na guelra, com medos como é óbvio, mas que não a impedem de seguir em frente e lutar pelo que acredita.

Somos um bocadinho “parvas” e quero acreditar que temos um sexto sentido apurado. Durante alguns meses partilhámos o mesmo Ginecologista e, brincá-mos (também muitas vezes) que um dia teríamos um filho ao mesmo tempo. Descobrimos com uma semana de diferença que os cozinhados tinham dado frutos e ambas tínhamos um bolo no forno. Juro que não combinámos nada! Cada uma na sua casa, com a sua receita, com o seu ajudante de cozinha. Mas, já viram?! Que organizados!!!! Uma coisa é certa, arrumá-mos o assunto dos filhos nesta família por uns tempo. Vinham (e vieram) dois de uma só vez, com 15 dias de diferença e sempre deu para a malta de organizar nas visitas e etc. Querem sabem o melhor? O bolo dela é cor-de-rosa e o meu é azul!


Com ela partilhei uma gravidez, o bom e aquele mau que ninguém conta. Ainda hoje, o bom e o mau da maternidade, entre nós não filtro. Deu-me muito mais atenção a mim do que eu a ela. Com tudo o que se passou, sei que faltou muito da minha parte e não faltou nada da parte dela. Esteve sempre aqui, e eu nem por isso. Virei o centro das atenções e sinto que ela passou muito entre as pingas da chuva. Desculpa por isso! Gosto muito de ti!


Esta é a Magda:

> Quem é a Magda?
Boa pergunta...  Não é fácil falar de nós próprios! A Magda é uma pessoa simples, amiga do amigo, aquela amiga que sabe ouvir e não mandar a baixo. Uma pessoa normal!

> És Designer e mãe de uma Princesa com menos 15 dias que o meu Pintainho. Sentes que os desafios da maternidade põem à prova a profissional que há em ti?
É verdade, é um teste porque eles exigem muito de nós e esta princesa em especial exige mesmo muito! Desde muito cedo que usa pilhas Duracell, mas é tão bom!!! Por isso a nível profissional é preciso muito mais concentração e um esforço redobrado para fazer tudo como fazia até ela aparecer! Mas é muito gratificante conciliar estas duas tarefas!!

> O nosso avô morreu de cancro, o teu pai teve um cancro e agora eu tive um cancro. Existe alguma coisa que nos prepare para lidar com isto de perto?
Não, acho que nunca estamos preparados para estas situações e nunca vamos estar. Do avô não tenho muitas memórias mas posso dizer que tanto no caso do meu pai como no teu foram vocês que me deram forças para não desanimar apesar de eu acreditar sempre que iam ultrapassar! Eu sou muito positiva e acho sempre que há uma solução boa para tudo mas nestas coisas há sempre, nem que seja num pensamento muito distante, um momento em que nos passa pela cabeça que pode acontecer o pior... É tu se calhar achavas que não sabias lidar mas lidas-te muito bem! Foste FORTE e mostras-te-nos a todos como é possível gerir tudo que te estava a acontecer de cabeça erguida! 

> Como é ser prima de alguém que é portador de um cancro?
É uma sensação de "parece impossível", ela é tão nova não pode ser... É sentir que podia ser comigo, porque não...? Mas ao mesmo tempo é ver como és forte, como te transformas te numa pessoa mais forte, sei que tiveste muitos momentos que te devia passar tudo pela cabeça (que não querias demonstrar) mas nunca baixas-te os braços, foi muita coisa a passar-se ao mesmo tempo e tinhas de arranjar forças e tu tiveste essa força! És uma mulher com M grande!! 

> Vivemos a gravidez de mãos dadas. Como foi para ti saber tudo o que me estava a acontecer?
No início nenhuma de nós imaginava o que se ia passar... Foi tão engraçado, antes brincávamos que ainda acontecia e não é que aconteceu mesmo!!?! Tínhamos as 2 um bolo no forno   ao mesmo tempo!! Mas no decorrer da gravidez eu ia tendo sempre boas notícias e a ti volta não volta lá vinha uma noticia menos boa... Nas primeiras vezes acreditei que ficava por ali e que o que tinham detectado no pintainho ia ser ultrapassado. Mas as notícias menos boas não paravam de cada vez que ias a uma consulta. Era um misto de sentimentos... Ficava muito feliz por mim porque estava a correr tudo bem mas ao mesmo tempo sentia um calafrio de pensar naquilo que estarias a sentir com as notícias que ias tendo. Até que chegou o dia de dizeres que tinhas alguma coisa na mama e ias fazer uma biopsia... A primeira coisa que me veio à cabeça era que fosse leite e quis que acreditasse nisso até saberes o resultado, eu pensei muitas vezes que podia ser leite e não seria nada de grave mas afinal a tua intuição estava certa... Mas como em tudo o que te aconteceu tu ias-te a baixo mas arranjavas logo forma de arranjar forças e fazer o que havia a fazer. Sei que em algumas alturas se calhar não estavas assim tão calma mas querias parecer! 

> Foste das primeiras pessoas que me viu careca. Como foi para ti esta mudança?
Confesso que não me causou qualquer impressão, ficaste linda! Mas percebo perfeitamente que o cabelo é um "pormenor" muito importante na nossa auto-estima, falo eu que sou paranóica com o cabelo (se calhar é de família ). Mas tu mais uma vez foste forte e fizeste de uma forma drástica antes que começa-se a cair mais, não esperas-te que o João te fosse cortar. Não queria acreditar quando disseste como tinhas feito sozinha. Acredito que tenha custado muito.

> És minha prima, acompanhas-te de perto todo este processo. O que dirias a alguém que se encontra na mesma posição que tu?
Acho que não há muito que se possa dizer a não ser que dê todo o apoio que for preciso e possível, que saiba ouvir apenas se a outra pessoa não quiser que lhe façam perguntas. Basicamente tentar perceber quais as necessidades da pessoa doente e seguir o coração! 

domingo, 14 de janeiro de 2018

Por esta hora

Há um ano, por esta hora estava numa sala de partos no Hospital Beatriz Ângelo. Carregadinha de anestesia, sem dormir há mais de 24h, e num turbilhão de emoções que não sei explicar. Se por um lado estava desejosa em te conhecer, por outro tinha gravada toda a dor de uma biopsia poucas horas antes e as vozes dos médicos que só repetiam que "estavam muito preocupados e não queriam perder tempo".
Não era suposto ser assim. Nada nos prepara para ser assim. Mas foi assim!
Teimas-te em não nascer numa sexta-feira 13, não te critico, também gosto mais de números pares e o 14 fica perfeito em ti.


Depois de mais de 24h o Pintainho lá resolveu dar o ar de sua graça mas como estava bem lá dentro teve de ser arrancado a ferros e o Super-Homem não pôde assistir ao seu nascimento, apesar de ter entrado muito pouco tempo depois.
Eram 9:46h quando o Pintainho conheceu o mundo. Pequenino, com apenas 42cm, mas um verdadeiro boneco onde tudo lhe ficava ridiculamente grande.
Às 9:46h a nossa vida mudou para sempre, já não éramos só dois, éramos dois e mais um bocadinho fofinho.

Ainda no recobro tive a confirmação de que tinha cancro de mama. Quando ouvi avisarem de duas camas livres na enfermaria e a médica manda a "a menina do cancro de mama" (e outra). Sabia que era eu. Sim, foi assim que eu soube o que significavam as palavras "estamos muito preocupados".
Apesar disto, não o contei a ninguém, nem ao Super-Homem, preferi contar mais tarde e deixa-lo desfrutar daquele momento.

Hoje, quase um ano depois, recordei com um arrepio na espinha todos aqueles momentos, todo aquele turbilhão de emoções que julgava bem guardados.
Hoje, olho para o Pintainho e vejo com cresceu. Não estou em mim, como é que é possível já ter passado um ano?? Ainda ontem era um bebé pequenino e hoje já fala...
Bem, não é só ele que está de parabéns, eu e o Super-Homem conseguimos mante-lo bem de saúde durante 12 meses. Acho que passámos no teste não?!
Já agora, parabéns só depois das 9:46h que eu sou um bocado supersticiosa!

domingo, 17 de dezembro de 2017

Esbardalhei-me!

Pois é, há anos que isto não me acontecia, esbardalhei-me ao comprido no corredor do hospital dia! Mas quando digo ao comprido, foi literalmente ao comprido e até o braço que não estica se esticou. Fiquei escarrapachada no chão!

Ia eu muito “contente” quando de repente piso o cachecol que estava no carrinho do Pintainho e pumba! Toda eu no chão e o carrinho todo-o-terreno do rapaz virado. Foi todo um aparato em meu redor e as pessoas ficaram assustadas. Mas eu até estava bem, só precisava que endireitassem o carro do rapaz! 


Agora olhando bem para a coisa, o Pintainho estava firme no seu carro (que agora tenho a certeza que foi das melhores compras que fiz), de olhos abertos e a rir. Provavelmente da figura da sua progenitora esparramada no chão.

Naquela altura eu estava bem do físico, já o psicológico ficou bastante afetado... e se eu estivesse sozinha?! E se o Super-Homem não estivesse lá?! E se isto volta a acontecer?! E se?! E se?! Bom, aqui vem toda uma avalanche de probabilidades e leis da física. Se o saco que está pendurado no carrinho estivesse mais acima o peso seria outro, logo a probabilidade de isto acontecer seria... se eu me tivesse atirado logo para o chão em vez de me agarrar ao carrinho... mas que mãe é que a cair se agarra a um carrinho de sabe que ele vai virar?! Chego à conclusão (agora, passados 5 dias e depois de chorar baba e ranho) que TODAS se agarravam ao carrinho! Mas coração de mãe entra em negação até que se esbardalhem ao comprido.

Naquele dia o corpo estava bem e o psicológico profundamente afetado, hoje o psicológico está bem mas o corpinho percebeu o quanto duro é o chão daquele hospital. Estou bem, mas um bocadinho muito dorida.

“Aquele dia” foi o dia 14-12, dia em que o Pintainho comemorou os seus 11 meses. Quero acreditar e ele acha que eu sou uma mãe super radical e que para comemorar esta data o levou a andar de montanha russa! 
Vou tentar ser criativa em janeiro e fazer qualquer coisa que não implique nódoas negras.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

#atoressecundaros - A Super-Mulher!

Chego à conclusão qu fazer perguntas é dificíl!

Há histórias de vida surpreendentes e esta é uma delas.  Corta-nos a respiração!
A Carla, que felizmente se cruzou na minha vida é uma verdadeira Super-Mulher! Tem a capacidade de encarar a adversidade (e já teve muitas) com um sorriso na cara e ainda perder um bocadinho para nos brindar com um abraço. A Carla dá dos melhores abraços demorados que alguma vez recebi.
Para além de mãe, mulher e terapeuta, é autora do Blog “Prematuro… Até quando?” Ora vejam se eu não tenho razão!
Foi na história de vida desta Super-Mulher que tirei muito do que sei hoje. Foi ali que fui buscar inspiração para conseguir estar sã estes últimos 10 meses da minha vida, pois ela e a sua família são um verdadeiro exemplo de força, determinação e fé. Sim porque a Carla também tem um Super-Homem, que luta de mãos dadas, lado a lado e sem hesitar!
Se existisse uma expressão nossa, seria com toda a certeza “já chega!”



Esta é a Carla:

> Quem é a Carla?
Esta pergunta deveria ser respondida pelas pessoas que fazem parte do meu percurso. Talvez surgissem diferentes definições. Creio que há muitas Carlas dentro de mim. A forte, a frágil, a doce, a dura, a alegre, a triste, a sonhadora, a realista… Talvez um pouco de todas em cada dia, em cada contexto, em cada lugar…

> És Terapeuta, mulher e mãe de uma Princesa e de um Príncipe. A Inês nasceu prematura e o Pedro foi um grande prematuro. Trabalhas com intervenção precoce, és coordenadora do Núcleo das Perturbações do Espectro do Autismo e tens utentes que te procuram de todos os pontos do país. Sentes que, enquanto mãe, tens um desafio acrescido?
Creio que o meu desafio é, como o de todas nós, o equilíbrio. A procura diária do tempo para tudo, da competência em cada um dos papeis e o sabor amargo de em tantos dias sentir que algo ficou desequilibrado. Há momentos em que sinto que dei menos do que deveria ter dado,  como mãe, como profissional, como mulher, como amiga… 

> Os teus Príncipes tiveram complicações após o parto, mas o Pedro tem uma lista extensa de patologias e complicações, e teve um internamento longo, muito longo. De que forma as tuas competências, enquanto profissional, influenciaram a tua forma de reagir perante a adversidade?
Tanto na minha filha como no meu filho, as minhas competências profissionais tiveram sempre os dois lados da moeda. Por um lado, saber os termos técnicos e as possíveis consequências daquelas situações causaram-me um sofrimento enorme. Como me dizia outra mãe na neonatologia, a ignorância nestas situações pode ser uma bênção. Sofri bastante por antecipação, por imaginar as lesões que poderiam resultar de cada episódio. Por outro lado, as mesmas competências ajudaram-me a ter ferramentas para estimular os meus filhos e acreditar na plasticidade e na capacidade de ultrapassar os obstáculos. Eles têm sido os meus grandes professores. Ensinaram-me que tudo é verdadeiramente possível...

> É possível dividir a Carla mãe da Carla profissional?
Totalmente impossível. Trabalho diariamente com crianças e com os seus pais. Tento recebê-los e ajudá-los como gosto de ser recebida enquanto mãe. Já recebi más notícias em relação aos meus dois filhos de uma forma extremamente dolorosa e que me deixaram destroçada e sem rumo. Quando os pais me procuram é para receberem muitas vezes um diagnóstico difícil, mas faço o meu melhor para que que saiam do meu gabinete com esperança e com um rumo para seu filho.

> Sentes que a vida te pôs à prova?
Inúmeras vezes, já vivi alguns dos meus piores pesadelos… Ainda assim, encontramos sempre pessoas com provas maiores que as nossas. Olho para ti e fico em silêncio...

> Tinhas 17 anos quando a tua mãe partiu com um cancro no Pâncreas. Acompanhaste este meu processo. O que dirias a alguém que tenha passado ou esteja a passar pelo mesmo?
Que a vida é verdadeiramente frágil, ainda que por dentro de pessoas tão fortes. O cancro torna-se terrível porque traz  consigo muitas lutas, muitas derrotas, muitas esperanças, muito sofrimento... No entanto, também pode levar a um caminho de superação e de valorização da vida. Nenhum de nós sabe quanto tempo que tem pela frente… o cancro relembra-nos disso. E da importância de cada dia,de  cada momento, de cada pessoa. Devolve-nos muitas vezes o olhar para o essencial.

> Acreditas que as despedidas são apaziguadoras?
Acredito que deveríamos estar mais tempo com quem gostamos, dizer mais vezes o que queremos dizer, dar prioridade ao amor e às pessoas que são tão essenciais nas nossas vidas. Nunca saberemos que momento será o último com qualquer uma das pessoas que mais amamos...

> Um abraço cura?
Um abraço salva.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Inspiração



Confesso que já há muito que nos apetecia agarrar na mala e sair para qualquer lado, mas temos adiado e adiado e adiado. Na realidade, e como diz o Super-Homem, "Se não fossem as condicionantes clínicas, já tinha comprado três bilhetes de avião." Desta vez existiu alguém que tomou a iniciativa e nos deu um valente chute no glúteo e nos mandou para um retiro!

Bem, até aqui foi o caos! Confesso que fazer a mala de uma criança de 10 meses mala comida mais toda uma catrefada de coisas que pode ser necessária, mas que eu bem sei que não vai servir para nada, não é tarefa fácil. Parecemos uns refugiados com tanta coisa...
O plano para este fim de semana é: não é! Não temos plano para além de comer!

O local ideal para respirar fundo e ir buscar um bocadinho de inspiração, no meio do nada, com uma varanda com vista desafogada, um frio bom, os passarinhos a cantar.... Aqui a minha pessoa que até anda calada, agarra nos seus equipamentos que têm estado esquecidos e tenta por as coisas em dia. Tentei, mas pouco e não insisti muito com a inércia que se abateu sobre este corpo. Já repararam que ando preguiçosa não já?... 

Como eu costumo dizer, às vezes o melhor remédio é mesmo vir à rua, levar com o sol na tromba e  respirar fundo para se estar pronto para o que aí vem. Bem, confesso que partir uns pratos também tem um efeito terapêutico extraordinário, mas sai mais caro que o sol (vejam o que vos compensa mais).
Tenho um querido colega (Olá Dona Otília!!!), que costuma dizer que às vezes é preciso sair da ilha para a poder observar bem. 
Bom, eu agarrei nos equipamento e sai da ilha, mas apercebi-me que a inspiração não estava na varanda com vista desafogada, nem no som dos passarinhos, nem na máquina fotográfica ou iPad. A inspiração estava na ilha e veio em tons de gritinhos e reboletas na cama King Size daquele quarto de hotel. O Super-Homem e Pintainho estavam imparáveis, pareciam duas crianças! Dei por mim a observar, afinal de contas eles têm 5 meses de brincadeiras, abraços e mimos para pôr em dia e eu só queria dormir um bocadinho... (o que também não aconteceu que o Pintainho agora grita).

Às vezes é preciso mudar a perspetiva para nos aperceber-mos o que está à nossa volta, e a minha inspiração de facto esteve sempre comigo, mas ando tão assoberbada que nem me apercebi. Na realidade estes últimos 5 meses não têm sido fáceis. O Super-Homem ainda não está connosco e todos perdemos. As nossas rotinas deixaram de existir para não falar em tudo o resto. Passámos a ser namorados, daqueles à moda antiga que ele vem todas as noites a casa da minha progenitora. Espero que o casório esteja para breve!

Continuo a achar que o sol na tromba é terapêutico mas a minha máxima mantém-se: No final de contas o que importa é o amor!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

10 meses


Todas as etapas do Pintainho têm sido saboreadas como únicas, mas confesso que este marco de 10 meses trouxeram alguma nostalgia. Olhar para a roupa de 42cm e ver como cresceu, recordar como ficava perfeitamente aconchegado no meu colo e agora ocupa bem mais que o meu peito e já dá abraços.

Acordar neste dia foi um recordar do que passou, e se passou rápido, e ver o quanto cresceu. Conseguimos mante-lo saudável, grande e forte!!

Na manhã de 14 de novembro, o Pintainho acordou e mostrou todo o seu reportório de piadas, gracinhas e conquistas. Foi de tal forma animado, que eu por momentos pensei que a cria me tinha sido trocada durante a noite. Bem, mostrou também o seu lado mais rebelde e, literalmente da noite para o dia, acho que arranjou um esquema para se começar a pirar do berço. Obrigada filho pela arritmia matinal.... supostamente o berço era seguro e tu não te punhas de pé.

Se em tempos não se ligavam às etapas de crescimento, agora ligamos e registamos. Todos os dias são conquistas, todos os dias há coisas novas. Ele aos poucos, chega lá, mesmo com as suas limitações arranja uma forma de fazer tudo o que os outros fazem. 

O Pintainho já vai falando, mas ganhou um hábito que não o sei definir. O Pintainho leva o dia a chamar pelo papá (eu como adoro até faço umas videochamadas para o papá ver), mas quando o ponho no carro ele não chama o papá, ele GRITA pelo seu papá. Vou no caminho com uma criaturinha a gritar PAPPPPPPÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!! Literalmente isto... Sinto que o raptei e acho que se me mandam parar vão pensar o mesmo.

No meio deste turbilhão é bom ver que conseguimos alcançar todas estas etapas e que ele está bem. Os bebés querem-se felizes, e eu tenho a certeza que o nosso Pintainho é uma criança feliz.
O tempo não pára, por isso criem memórias, apertem, beijem, digam o quanto os amam, sigam o coração sem medos, porque vão acertar.