quinta-feira, 20 de julho de 2017

Desapego

A minha nova função é Mestre de Obras. Não posso fazer nada por causa da operação, por isso limito-me a dar ordens.
Um carro veio contra a casa e ficou tudo partido. Não sobrou quase nada.
Agora é tempo de ver o que ficou de pé e eu, sentada numa cadeira que sobrou, limito-me a dizer o que vai ou fica e a puxar pelos neurónios adormecidos pelos medicamentos que me dão para as dores (bastante bons já agora), a tentar lembrar-me de tudo o que estava em cima dos móveis antes de ter saído de casa no dia 6 de julho.

Sempre me disseram para não deixar a casa desarrumada quando sair. "Sabemos quando saímos, não sabemos quando entramos". Confere!
Levei a semana toda a pensar nisto, e com muito afinco tratei de limpar e arrumar a casa toda. Ficou um brinco e às 6h da manhã ainda apanhei a roupa. Valeu-me de muito... Devia ser indemnizada pelo trabalhinho todo que tive!!

Eu sempre gostei de partir uns pratos quando me irritava, achava que era terapêutico, mas isto foi demais, foi uma terapia de choque! 

Com isto vi que tinha tralha que não me faz falta para nada, mas também vi que era apegada a uma ou outra coisita que se escangalhou e para o qual não há preço. Que preço se dá à parte sentimental que está associada a um ou outro objeto?
Existe neste processo um desapego gradual. Primeiro choramos, e muito, mas depois vamos enchendo saco após saco e vamos sentindo um alívio. Alivio em deixar de ver aquilo que tanto lutámos para ter e de repente ficou destruído.
Trabalhamos demasiado para ir enchendo a casa com coisas para ficar bonitinha, mas serão todas essas coisas necessárias?...

Nós tínhamos demasiada tralha, e as tralhas são pesadas. Não pelo peso em si, mas pelas memórias que guardam. São muitas e muitas. Agora restam as memórias porque a tralha estava escangalhada e foi para o lixo.

Limpamos as lágrimas, respiramos fundo, guardamos as lembranças no coração e começamos mais uma etapa. Afinal de contas, já estamos habituados a estes contratempos certo?!

Aprendemos sempre qualquer coisa em tudo o que nos acontece não é?... 

8 comentários:

  1. Olá,hoje vi um pouco da reportagem é claro não podia ficar indiferente.pk somos novas PK temos crianças tão pekeninas k precisam de nós! Tb tive este ano novo uma grande avalanche k m trouxe novas rotinas ,um linfoma,terminei este sábado a radioterapia.e devo agradecer ao grande homem k tenho ao meu lado por me acompanhar nesta grande luta k só pensamos acontecer aos outros,!Acreditar sempre é o nosso lema é acho k também tem uma grande força ,vai correr td bem ! é mais uma GUERREIRA

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    1. Olá Elisa,

      Obrigada pelo seu comentário.
      Os homens são tão substimados... Felizmente alguns surpreendem-nos.
      Fico feliz por ter terminado esta fase. É importante terminar-mos fases.
      Desejo-lhe tudo de bom.
      Um beijinho grande

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  2. Olá Paula! Só cá vim dar-lhe um beijinho e desejar-lhe muita força. Vi-a na Sic e fiquei muito emocionada com a sua história. Fiquei com a certeza que é uma mulher de força pois essas contrariedades todas só aparecem a quem consegue arregaçar as mangas e lutar! Um grande beijo e força!

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    1. Olá Vera,
      Obrigada pela sua mensagem. Fico de coração cheio com o carinho que tenho recebido.
      Um beijinho grande

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  3. A sua vida dava um filme, quanto mais um blogue !
    Desejo que corra tudo bem !

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    1. Um filme não sei, mas pelos vistos já deu 20min de direto :)
      Um beijinho grande

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  4. Grande Paula!
    Vi parte e rebobinei para ver todo o seu depoimento na TV.
    Acaba por ser, infelizmente, uma estória comum, apesar de triste, se considerássemos cada facto isoladamente. A simultaneidade dos três acontecimentos torna-a, na verdade, uma estória incomum, mas que irá acabar bem, tenho a certeza!
    Quero felicitá-la pela coragem com que fez frente a tantos revezes, mas pelo que deu a perceber no seu relato espantoso tem toda a força para enfrentar tudo o que irá surgir no futuro: as melhoras!
    Eu tenho 70 anos e aos 55 tive cancro da mama. Fiz uma quadrantectomia e esvaziamento das glândulas da axila, químio e radioterapia... apenas isso!
    Tenho três filhos e, naquela altura, tinha só três netos. Hoje tenho oito netos e estou bem... sinto-me bem!
    O mesmo irá acontecer consigo: vai estar bem... vai sentir-se bem!
    Quero felicitá-la pelo lindo menino que tem (da idade do meu neto mais pequenino!), pelo marido, família e amigos que sempre estiveram ao seu lado... coisa muito importante que eu também tive.
    Espero poder continuar a ter notícias suas, desde que a sua disponibilidade o permita.
    Que tudo fique bem e nunca perca essa força, essa coragem, a alegria que, embora encoberta, nunca deixe de fazer sorrir a linda Mulher que é a Paula.
    Um abraço muito terno da
    Teresinha

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    1. Teresinha,

      Obrigada pela sua mensagem e testemunho. É muito importante receber exemplos de estórias que correm bem. Fico muito feliz por si.
      Que a vida lhe continue a sorrir e lhe traga muitas coisas boas e só boas.
      Um beijinho no coração

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