terça-feira, 22 de agosto de 2017

Mais um primeiro dia

"Hoje, a semente que dorme na terra
E se esconde no escuro que encerra
Amanhã nascerá uma flor

Ainda que a esperança da luz
Seja escassa
A chuva que molha e passa
Vai trazer numa gota amor

Também eu estou
À espera da luz
Deixo-me aqui
Onde a sombra seduz

Também eu estou
À espera de mim
Algo me diz
Que a tormenta passará

É preciso perder
Para depois se ganhar
E mesmo sem ver
Acreditar!

É a vida que segue
E não espera pela gente
Cada passo que dermos em frente
Caminhando sem medo de errar

Creio que a noite
Sempre se tornará dia
E o brilho que o sol irradia
Há-de sempre me iluminar

Quebro as algemas neste meu lamento
Se renasço a cada momento
Meu o destino na vida é maior

Também eu vou
Em busca da luz
Saio daqui
Onde a sombra seduz

Também eu estou
À espera de mim
Algo me diz
Que a tormenta passará

É preciso perder
Para depois se ganhar
E mesmo sem ver
Acreditar!

É a vida que segue
E não espera pela gente
Cada passo que dermos em frente
Caminhando sem medo de errar

Creio que a noite
Sempre se tornará dia
E o brilho que o sol irradia
Há-de sempre nos iluminar

Sei que o melhor de mim
Está para chegar
Sei que o melhor de mim
Está por chegar
Sei que o melhor de mim
Está para chegar"

Mariza - Melhor de Mim

Se a minha vida se pudesse resumir numa música, de certo que seria esta.

Ontem iniciei a Radioterapia, foi mais um primeiro dia. Agora divido os dias entre Pintainho, Radio e Fisioterapia. Pelo meio vou reclamando do que vocês já sabem.

Estamos cansados, muito cansados. A nossa almofada financeira desapareceu. Entre consultas, margarida, radioterapia, Pintainho... Desapareceu. É tão difícil criar uma almofada e tão fácil esvazia-la não é? Apesar do desabafo estamos bem!

O Pintainho já tem dentes, daqueles que mordem! Não se cala dois minutos e já tem vontade própria, ou pelo menos já começou a mostrar bem quando não está satisfeito. Finge que chora e faz um ar amoroso de derreter corações. Não lhe consigo resistir! Quando a Bisa chega ao pé dele, ele empina-se e dá-lhe festas na cara, já a mim dá-me uns valentes chapadões e arranca-me os óculos... Mas quem é que lhe ensinou isto?? Eu cá não fui!

Como lutador que é, já tenta gatinhar, já se tenta por de pé.
Nós, pais galinhas, deixámos de olhar à volta e de nos guiar pelas etapas do crescimento. Já nos mentalizámos que ele, para já, terá um desenvolvimento mais condicionado, e por isso não adianta perder tempo a ler coisas que só nos vão gerar ansiedade.

Apesar de tudo o que nos tem acontecido, apesar de à noite quando me deito, me perguntar "o que será que está reservado para nós amanhã?", continuo a acreditar que tudo vai passar, que o melhor está para chegar. Se não fosse para acreditar, não valia a pena a luta.
O melhor tem passado entre as pingas da chuva mas tem chegado cá. O melhor abençoa-nos todos os dias com sorrisos e bochechas gordas amorosas. O melhor conquista-nos todos os dias com novas descobertas e mostra-nos que nada é impossível.

domingo, 20 de agosto de 2017

44 dias

44 é o número de dias que fui operada, é o número de dias que o Gervásio morreu, mas também é o número de dias que estou fora de casa. No dia 6 de julho pelas 7.00h saí de casa e já não voltei, uma carrinha escangalhou-me a casa.
Estou há 44 dias acampada na casa da minha mãe com o Pintainho. Há 44 dias que estamos separados do Super-Homem. e que ele dorme no meio dos escombros na esperança que não entre ninguém em casa a meio da noite e leve o pouco que nos sobrou.


Embora sejam 44 dias, parece-me que a companhia de seguros do veiculo acha que foi ontem e que está a tratar do assunto como se de dois veículos se tratassem. Ora agora mandam um perito, ora agora mandam outro porque o anterior não listou os bens, ora agora vai mais um para tirar as teimas porque o orçamento é avultado. 
O primeiro perito até era um "rapaz" simpático e atencioso, pelo menos assim parecia, mas quem vê caras não vê corações e depois de nos dizer o que tínhamos de conservar e deitar fora e de receber os orçamentos de recheio e obras, resolve enviar um e-mail para o gestor de processo a dizer o seguinte: "Situação MUITO COMPLEXA, ao nível das reclamações formuladas pelo lesado, pelo que peço análise, e se for necessário auxilio futuro estamos disponíveis (aproveitamento evidente e orçamentos exorbitantes)"

Agora pergunto, como pode um perito afirmar tal coisa, sem ter ele próprio feito um inventário?... Esqueceu-se, por inexperiência esqueceu-se vieram a assumir mais tarde... e como se esqueceu acusa-nos de tentativa de aproveitamento. É importante referir, que à data da primeira peritagem a habitação estava quase intacta, ainda não tinha sido alvo de limpeza.
Parece-me que por morar na Serra da Luz, não tenho direito a ter o recheio que entender. Sinto-me verdadeiramente discriminada!

Depois desta informação ter vindo parar às nossas mãos, o "Gonçalinho" encrespou e deixou de responder a e-mail´s. Chegou mesmo a dizer: "O envio diário de emails não acelera o tratamento do caso." Bem, se nos tivesse respondido às nossas dúvidas não seriam necessários e-mail´s diários, não trabalhamos em seguros...

Quando pedimos para a MAPFRE (através do "Gonçalinho" claro) para formalizar a ida que mais um perito a resposta foi bastante esclarecedora quanto ao caráter do menino que está a gerir o processo: "Não existem emails, nem vamos enviar qualquer email desse teor. V. Exas. têm uma certidão de representação, e não vos foi negado o acesso em fase anterior. Se for possível verificar os bens reclamados, ótimo. Se não for possível, o lesado terá se fazer prova em tribunal, pois a seguradora sem analisar tudo o que é reclamado, não indemniza."

Como o menino está incomodado com e-mail´s, resolvemos começar a envia-los para a gestão de reclamações com conhecimento da Associação Portuguesa de Seguradores e da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Mesmo assim sem resposta. Amanhã vamos tentar uma terceira abordagem: ir à MAPFRE e reclamar no Livro de Reclamações.

O "Gonçalinho" ainda não percebeu que nós não temos nada a perder, porque na realidade está tudo partido. Pelos vistos só está preocupado com os danos patrimoniais, e esquecido dos não patrimoniais e que já vão sendo avultados!

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Seguros que nos seguram pouco

"Boa tarde Exmos. Senhores,

No passado dia 6/07/2017 pelas 9.20h ocorreu um sinistro sito, na Rua XXXXXXXXXXXXXXX, Pontinha, com um segurado V/. O V/ segurado entrou com a carrinha por uma moradia. No R/C dessa moradia encontravam-se duas pessoas: Pedro XXXXXXXXXXXXXX e 41 anos e Joaquim XXXXXXXXXXXXXXX de 6,5 meses. Ambos foram assistidos no local e enviados para o Hospital Beatriz Ângelo tendo tido alta passado algumas horas.

Desde a data do acidente cuja culpa foi assumida pela MAPFRE, já fomos alvo de duas peritagens de recheio e três de obras, foi apresentado por nós uma listagem de bens danificados e um orçamento de obras, sem que existisse uma decisão. Compreendemos que se trata de uma situação delicada e que pode levar o seu tempo, visto não ter existido mortos, também não existe um prazo de resposta. Contudo, após várias tentativas falhadas de esclarecimentos com o Sr. Gonçalo XXXXXXXXXXXXXXX, sentimos a obrigação a recorrer a outras instâncias de forma a ver esclarecidas todas as nossas dúvidas.

Caso não tenham conhecimento do processo, informo que a habitação se encontra inabitável e o agregado nela residente em situação clínica delicada. Situação esta que poderemos comprovar caso seja necessário. O agregado é composto por dois adultos, um deles doente oncológico, submetido a uma mastectomia no passado dia 6/07/2017 e na eminência de iniciar Rádioterapia e um bebé de seis meses e meio, portador de uma anomalia congénita e que necessita de acompanhamento clínico semanal. Informo também, para o caso de ter passado despercebido ao Sr. Gonçalo XXXXXXXXXXXXXXX, que o agregado se encontra separado e a viver às custas da boa fé de familiares.

É de lamentar que decorridos trinta e oito dias do sinistro, após duas peritagens de recheio e três de obras, não exista sequer uma resposta a todas as questões por nós colocadas e que reforçamos:

1 - Existe ou não direito a uma habitação de substituição?

2 - Existe ou não direito ao pagamento dos km´s extra que o lesado, Pedro XXXXXXXXXXXXXXX, tem de realizar diariamente para estar com a família?

3 - Existe ou não uma alternativa à gratificação da Polícia de Segurança Pública, e que seja fornecida pela V/ seguradora? Como deverão compreender, o pagamento diário de gratificação no valor de 340,00€ é incomportável. A habitação encontra-se sem barreira de segurança (muro e parede) que foram destruídos pelo V/ segurado, já tendo sido alvo de tentativa de furto.

Todas estas questões já foram anteriormente colocadas ao Sr. Gonçalo XXXXXXXXXXXXXXX, que nunca teve a amabilidade em nos esclarecer e continuamos a aguardar.

É de lamentar que numa troca de correspondência eletrónica inicial, sejamos catalogados de “aproveitadores” e toda uma postura arrogante com que temos sido tratados pela MAPFRE através do seu representante Sr. Gonçalo XXXXXXXXXXXXXXX. É de lamentar que para ver-mos as nossas dúvidas esclarecidas tenhamos de nos deslocar à V/ sede. É de lamentar o lesado Pedro XXXXXXXXXXXXXXX ter de pernoitar sozinho numa habitação destruída pelo sinistrado de forma a proteger os poucos bens que sobraram e que nesta fase são da V/ responsabilidade. É de lamentar um agregado que se encontra a passar por uma situação clínica tão delicada, ter de residir nestas condições. É de facto de lamentar!

Porque entendemos que trinta e oito dias são suficientes para uma tomada de decisão, porque a habitação não pode continuar vulnerável e a correr risco de furto, porque este agregado tem o direito de viver com dignidade, porque a postura perante os factos não tem sido a mais cordeal, iremos aguardar com expectativa uma resposta até sexta feira, dia 18/08/2017. Na ausência de resposta avançaremos com a proteção da habitação tendo como referência o orçamento da empresa XXXXXXXXXXXXXXX, que V/ foi enviado e não foi declinado por V/ Exmas.

A presente exposição bem como toda a documentação anexa, será encaminhada numa primeira fase com conhecimento da Associação Portuguesa de Seguradores e da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. (...)"

Este foi o trabalho de hoje. Ingrato, muito ingrato. Julgava eu que seria um processo de fácil resolução, como sou ingénua... Da próxima vez não falo bem deles na TV!
O desprezo com que temos sido tratados é indescritível, só visto. Parece que somos uns aproveitadores. É verdade, assim que receberam os orçamentos definiram o processo como "uma tentativa clara de aproveitamento". Claro está, aqui que ninguém nos ouve fomos nós que pagámos ao Sr. Zé para lá ir bater com a carrinha e para tornar tudo mais credível o Super-Homem ficou lá dentro com o Pintainho...

Não me choca tanto a demora, choca-me sim a pequenez e arrogância das pessoas e este "Gonçalinho" tem muito que aprender da vida. Este "Gonçalinho" é tão seguro de si e da sua razão que se recusa a enviar mails, recusa-se a formalizar o pedido de mais uma peritagem, mas não tem problemas nenhuns em formalizar essa recusa. Ainda se acha no direito de nos ameaçar com o tribunal... Oh "Gonçalinho" QUEM TEM A CASA PARTIDA SOMOS NÓS!!!!! Este "Gonçalinho" é daqueles que dá vontade de o deitar nas pernas e dar uma réguadas no rabo à moda antiga.

Não sabemos quanto mais tempo vamos ficar assim. Não sabemos se temos de recorrer a instâncias superiores para reaver o que estava dentro daquelas paredes. Não sei quantas mais noites vou dormir sem o Super-Homem ou quando vou poder dormir sem me preocupar se entrou alguém dentro de casa ou não.

É caso para dizer que há seguros que nos seguram pouco e este não nos segura nada!

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Transferência




Tenho o Gervásio ao colo. Sim, leram bem, aqui está o Gervásio cortadinho às tiras e conservado em parafina.
O resultado do estudo genético já saiu e o meu P53 está bem de saúde. O meu gene estrela continua uma estrela! 
Bem, se por um lado o teste ilibou o gene estrela, por outro acusou uma mutação num gene vizinho e fiquei a saber que tenho Síndrome de Lynch.

Em traços muito gerais a Síndrome de Lynch é uma condição hereditária que aumenta o risco de cancro de cólon e outros tipos de cancro. Síndrome de Lynch tem sido conhecida como cancro colorretal hereditário sem polipose.
E chega, não me perguntem que eu cá não sei mais nada! Não sei, não quero saber mas também não tenho raiva de quem sabe.

Este texto nem devia estar aqui no blog, porque não acho nada comum, uma pessoa ter cancro de mama e uma mutação no gene associado ao colorretal... Isto não é frequente pois não?...
Eu quando soube o resultado não chorei. Primeiro fiquei confusa e depois veio o riso. Isto não me faz qualquer sentido e por isso dá-me vontade de rir.

Como a palavra "hereditário" está aqui pelo meio, tive de ir buscar o Gervásio para se fazer mais uns testes. O Gervásio foi levantado do seu jazigo com vista rio para ir para as mãos do patologista, foi exumado portanto. 
Confesso que se abateu sobre mim uma grande curiosidade. Estava louca e com formigueiros nas mãos para abrir o envelope e o olhar nos olhos. Mas resisti com todas as minhas forças sobre pena que nunca mais dormir depois de olhar para ele. Assim continuo com a imagem que fui desenvolvendo ao longo destes meses todos. Como dois namorados, daqueles namoros por carta que nunca se vêm até ao dia de casar.

Ainda há dúvidas que sou uma ave rara?
Acho que terminámos as coisas comuns e passámos às incomuns. Mas não vou pensar mais nisso.