É mais que uma
atriz secundária, é uma almofada, uma lufada de ar fresco quando o ar está a
faltar. Matilde, Psicóloga Clínica e mãe de duas Princesas. Era simples se a
definição da Matilde ficasse por aqui, mas ela é isto e muito mais.
Partilha comigo
alegrias e tristezas, duvidas e preocupações. Andámos lado a lado, as duas de
ventre cheio. Amparou-me os medos e preocupações muito além destes 9 meses.
Teve e tem um papel fundamental no meu dia-a-dia. Nunca chorou à minha frente, mas sofreu tanto ou mais do que
eu.
Esta é a
Matilde:
> Quem é a Matilde?
Pergunta difícil, mas de
resposta simples. A Matilde é uma comum-mortal que tenta levar uma vida normal,
igual à de tantas mulheres que tentam conciliar todos os desafios que lhes
surgem.
> És Psicóloga e mãe de duas Princesas. Sentes que os
desafios da maternidade põem à prova a profissional que há em ti?
Todos os dias, e todos os
dias a profissional que há em mim falha! Não me preocupa nada, mesmo antes de
ter filhos, assumi sempre que quando fosse mãe, seria apenas mãe. É claro que
há angustias de quem lida de perto com perturbações do desenvolvimento, estamos
sempre em alerta para o mínimo indicio de problema.
> A escola preparou-te para lidar de perto com um
cancro?
A escola não, a vida
talvez. Infelizmente é muito comum na minha família paterna, somos uma família grande e onde há muitos casos de cancro, aliás, costumo dizer que é o que tenho
de mais certo, é vir a desenvolver um cancro. Tento não pensar muito nisto, mas
é um facto. Mas é difícil lidar com o teu Gervásio, porque apareceu de forma
totalmente inesperada: na pessoa errada, no momento errado. Numa fase das
nossas vidas em que ambas estávamos a "gerar" vidas.
> Como é ser Psicóloga e amiga de alguém que é portador
de um cancro?
Bem... sou só amiga, não
consigo ser psicóloga, sinto-me emocionalmente muito próxima para conseguir ser
a psicóloga. O choque da noticia foi brutal, nem imaginas o quanto, nem
imaginas o medo que senti, um medo tremendo de te perder. Para mim, o lema da
nossa amizade passou a ser, vou fazer tudo para que se sinta o melhor possível
em todos os dias do resto da sua vida! Tento ouvir-te o mais atentamente
possível e tento respeitar quando sinto que não queres falar sobre o assunto
(às vezes é difícil não fazer perguntas, sorry!). Previ tratamentos duros, uma
depressão grande e uma maternidade comprometida. Mas tu, sempre a
surpreender... levaste os tratamentos com uma serenidade incrível,
emocionalmente provaste que és "à prova de bala" e és uma mãe
espectacular.
> Foste das primeiras pessoas que me viu careca. Como
foi para ti esta mudança?
Não me chocou nada de
nada! Achei que estavas muito gira. Sei que é uma coisa que te marcou muito,
como a todas as pessoas que passam pela quimio, mas acho que o impacto que essa
mudança tem nos outros é muito menor do que imaginas. Falámos tanto de
cabeleiras, lenços, que acho que banalizei completamente o facto de estares
careca. Mas já a forma repentina e autónoma (sim, porque fizeste isso sozinha!!!)
como rapaste o cabelo, isso sim marcou-me. Nunca vou esquecer a mensagem no
whatsapp às tantas da manhã a dizeres que tinhas rapado o cabelo.
> És minha amiga e colega, acompanhaste de perto todo
este processo. O que dirias a alguém que se encontra na mesma posição que tu?
Acho que a esta, devias
responder tu, não? Bem, nunca fizemos tabu deste assunto, falamos sempre fria e
cruamente do Gervásio, acho que isso foi importante. Talvez o ouvir atentamente
e respeitar quando a pessoa doente não quer falar sobre o tema, porque imagino
que toda a gente faça as mesmas perguntas, milhões de vezes. Também é
importante guardarmos as nossas angustias connosco, ou melhor, partilhar as
nossas angustias sobre o tema com outras pessoas, e não sobrecarregar a amiga
doente. E acima de tudo, continuar a viver, fazermos as coisas como fizemos até
ao dia em que o cancro é anunciado. Enfim, acho que é um jogo de equilíbrios
difícil e que obviamente não consegui sempre, afinal sou só uma comum-mortal.
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