sexta-feira, 12 de maio de 2017

Burocracias

O estado não está preparado para um doente oncológico. Infelizmente não está.

Quando o Gervásio foi detetado, a oncologista deu-me um papelinho (em janeiro) para ir entregar no posto médico para tratar das isenções, assim fiz. Ao chegar ao posto médico, foi-me dito que ainda estava a decorrer a isenção por gravidez e que só quando terminasse (a 31-03) é que deveria entregar aquele. Como sou bem mandada guardei o papel religiosamente e assim que a isenção terminou, dirigi-me ao posto médico com o dito mas desta vez a resposta foi outra. Já devia ter entregue o papel quando me o entregaram a mim, portanto em janeiro.
Desengane-se quem pense que fui atendida por pessoas diferentes, porque fui atendida pela mesma pessoa!
Percebi que a pessoa em causa "empurrou o problema com a barriga", e mesmo depois de lhe ter dito que quem me deu a informação anterior TINHA SIDO ELA PRÓPRIA fez-se de desentendida! Bem, não querendo discutir porque achei que não nos encontrávamos na mesma frequência, lá fui com o papelinho ao balcão correto e lá me explicaram o que tinha de fazer.
Chegada a casa enviei por e-mail o pedido de marcação da junta médica, e eis que passados uns dias recebo esta brilhante resposta:



Andamos a trabalhar bem e depressa portanto! É que nem pagando se consegue uma resposta atempada.
Tenho muita pena que para as fiscalizações das baixas o tempo de espera não seja de 4 meses e ainda percam tempo a notificar as pessoas a comparecer a juntas médicas mais do que uma vez durante uma baixa de gravidez por exemplo. Gostava de saber, quantas vezes eu vou ser notificada a comparecer a uma junta médica depois da minha baixa dar entrada, se calhar sou mais rapidamente notificada por isso, do que a marcação desta acontece.
Esta junta médica, para além de me dar isenção das taxas moderadoras, também me dá (se assim entenderem claro) uma determinada percentagem de incapacidade, o chamado "certificado de multiusos". Este certificado, faz com que o meu Super-Homem tenha uma redução de 50% das contribuições à Segurança Social, por exemplo. Sempre ajudava um bocadinho o orçamento familiar, visto estarmos com uma redução de 45% no meu rendimento.

Termino amanhã a minha licença de maternidade e, estando eu com um Gervásio, não posso regressar ao trabalho na segunda feira, com muita pena minha. Ontem, dia de quimioterapia, pedi que me fosse passada a baixa médica, visto não ser uma pessoa que se pode dar ao luxo de estar em casa sem receber um tusto. Como a minha oncologista não estava, a baixa foi passada por uma colega. Agradecida pela disponibilidade!
Depois de receber o papelinho fui pedir esclarecimentos, pois a baixa só contempla 11 dias. Estranhei, visto a indicação que tenho é que não devo estar apta para trabalhar até ao final do ano. Recebi como resposta que a primeira baixa são só 12 dias e as subsequentes de 30 dias e que os médicos não estão autorizados a passar mais que isso. Enfiei a viola no saco, só porque as meninas da receção são umas queridas e fui pesquisar sobre o assunto.
Ora bem, o site da Segurança Social indica o seguinte:


Pergunto-me qual será o problema de passar uma baixa superior a 30 dias se é esse o "plano"... há coisas que me ultrapassam e esta é uma delas. Se estão previstas todas estas durações, porque raio os médicos não as conseguem emitir?! É que esta diferença de percentagens faz a diferença, principalmente quando se tem uma criança pequena!
Não me quero comparar a um doente com Tuberculose, mas nisto não consigo perceber a diferença.

Eu já não andava contente com estas burocracias mas esta foi a gota de água. Chego à conclusão, que os serviços administrativos só estão como estão, porque os nossos dirigentes não os utilizam, caso contrário a música tocava de outra maneira! Calculo que nenhum deles tenha tentado ligar para a linha de apoio da Segurança Social! SHAME ON YOU!!!

O estado paga todos os tratamentos de um doente oncológico, e ainda bem que assim é, caso contrário morreriam muitos. O estado apoia até doentes estrangeiros, fornecendo tratamentos e alojamento. Quando estou na quimioterapia até tenho direito a almoço e lanche. Não me posso queixar do atendimento, e aqui englobo médicos, auxiliares, enfermeiros e pessoal administrativo, mas quando toca a Segurança Social e Finanças já não posso dizer o mesmo.

Por isso digo que o estado não está preparado para um doente oncológico, não enquanto a máquina administrativa continuar a funcionar desta forma e a ser chapa cinco para tudo o que lhe aparece. Se têm de existir exceções, então que sejam para as pessoas portadores de doenças crónicas e que deixem de olhar para estes, como olham para uma alergia ou gripe.

Sem comentários:

Enviar um comentário