Lembro-me deste dia como se fosse hoje.
Tinha ido fazer mais uma eco, a eco das 35 semanas. Esta era a meta desejada, o dia em que podia respirar fundo. Lembro-me de estar num congresso sobre prematuridade e todos me diziam, que às 35 já podia nascer, que já não era tão grave.
Neste dia, como em todos os outros desde as 22 semanas, a expetativa era somente que estivesse tudo bem, dentro das maleitas já identificadas.
Neste dia não nos disseram que estava tudo bem. Neste dia disseram-nos que os valores da artéria umbilical estavam alterados e que o pintainho tinha um abrandamento no crescimento, o fémur tinha menos 2mm dos que era suposto, e neste dia também nos disseram que poderia ser indicador de uma Trissomia. Tudo neste dia.
Depois desta avalanche, o Super Homem deixou-me em casa e foi tentar trabalhar para aliviar as ideias.
Neste dia à noite, confesso que chorei as pedras da calçada e desejei que ele nascesse para podermos olhar para ele, na esperança que independentemente do que aí viesse os médico fizessem o melhor por ele. Se ele quisesse vir conhecer o mundo, às 35 semanas já não era mau.
Eu, no silêncio ensurdecedor da minha casa registei este momento. Não ouvia nada nem ninguém, nem queria. Queria ficar assim, calada só com ele, a ouvir os batimentos cardíacos que tinha gravados na memória.
Neste dia, uma querida amiga que sabia do sucedido, enviou-me este link: 9 meses
Ouvi vezes e vezes sem conta. Havia e há, algo de apaziguador nesta música.
Neste dia limitei-me a respirar. E, apesar de saber que não era uma boa incubadora, uma coisa eu sabia, fiz o melhor que pude.
Não sabia se desejava que nascesses ou que ficasses cá dentro mais um bocadinho. Enquanto aqui estivesses eras só meu. Neste dia pensámos que podias vir quando quisesses que nós resilientes no típico e atípico, cá estaríamos para te receber.
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