segunda-feira, 17 de abril de 2017

No outro lado do balcão

Sou rececionista numa clínica de desenvolvimento infantil e todos os dias nos entram pela porta pais e crianças, para consultas e acompanhamento. Muitos já prata da casa, com diagnósticos definidos e outros pela primeira vez. Uns com "maleitas" mais graves que outros.
Apesar do carinho que tenho por aqueles que já conheço e infelizmente nos frequentam assiduamente, são muitas vezes os pais pela primeira vez que me marcam mais. Aqueles que pelos próprios pés ou indicação de terceiros, procuram uma resposta para algo que sentem ser atípico e muitas vezes até querem ouvir que são bons pais e que não podiam fazer nada que impedisse tal diagnóstico.
Apesar de já trabalhar neste local há sensivelmente quatro anos, continuo a não me habituar aqueles que choram depois de receberem o diagnóstico, e se choram. Apetece-me chorar com eles e abraça-los muito.


No outro dia, quando o pintainho estava internado por causa da infeção urinária, entrou no quarto uma das Pediatras da Neonatologia, queria fazer umas perguntas para uma apresentação que tinha de fazer à equipa.
Depois de cerca de uma hora na conversa, percebi que agora era a minha vez de estar do lado de fora do balcão. Ouvir com todas as letras que, apesar de nada se desconfiar e de ele estar bem, será sempre um caso a ser vigiado, foi aterrador, mesmo quando estas palavras nos são habituais. Nada nos prepara para as possibilidades de algo existir. Nunca me imaginei do lado de fora do balcão sem ser para as consultas mensais de Pediatria.

Na nossa vida pouco mudou depois disto, também ainda não passou muito tempo e o pintainho acabou de fazer 3 meses, mas sei que será um longo caminho a percorrer. Fazemos buscas no amigo google para saber o que é ou não suposto o pintainho fazer em cada fase do desenvolvimento. Sem alaridos, sem pressas e sem chatear a Pediatra porque o cocó não tem cheiro ou porque não arrotou.

Estamos oficialmente em modo coruja, de olhos esbugalhados e bastante atentos. 

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